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Transcript

Camões optou por esta figura porque dada a sua idade este impõe autoridade e respeitabilidade, sendo-lhe permitido falar e ser ouvido sem contestação. As suas palavras têm o peso da experiência que este ganhou ao longo da sua longa vida.

"Velho do Restelo" & "Mar Português"

Estrofes 91 e 92

Estrofes 93 e 94

Estrofes 95 e 96

A tripulação nao olhou para os familiares

Mulher fala do esposo

Não existe fama nem honra

mas só vaidade e cobiça.

Para não se fragilizarem

O homem era boémio

Referência à viagem que têm pela frente

Revoltada com a decisão do marido

Estrofes 97 e 98

Não se despediram normalmente das famílias

As pessoas que sofrem mais nestas viagens são os que ficam para trás e lamentam mais do que os navegadores.

Caminho marítimo até à Índia

Vasco da Gama não quis demorar as despedidas que sempre magoam.

Com esta viagem, acontecerão muitas mortes e desastres.

Apóstrofes

Este prazer dos homens de dominar e a cobiça fútil e sem valor da fama são asneiras ilusórias, passageiras (“vaidade”). Esta satisfação falsa, enganadora, é estimulada pelas pessoas, que a chamam de honra. Isso castiga grandemente os homens de coração tolo, vazio (“peito vão”) que ambicionam o poder e a fama; fazendo com que experimentem muitos suplícios (“mortes”, “perigos”, “tormentas”) e crueldade.

—"Ó glória de mandar! Ó vã cobiça

Desta vaidade, a quem chamamos Fama!

Ó fraudulento gosto, que se atiça

C'uma aura popular, que honra se chama!

Que castigo tamanho e que justiça

Fazes no peito vão que muito te ama!

Que mortes, que perigos, que tormentas,

Que crueldades neles experimentas!

— "Dura inquietação d'alma e da vida,

Fonte de desamparos e adultérios,

Sagaz consumidora conhecida

De fazendas, de reinos e de impérios:

Chamam-te ilustre, chamam-te subida,

Sendo dina de infames vitupérios;

Chamam-te Fama e Glória soberana,

Nomes com quem se o povo néscio engana!

Referencia à sua relação

Nome que se eleva acima dos outros.

Pleonasmo

O amor era a sua alegria

Anástrofe

"Nós outros sem a vista alevantarmos

Nem a mãe, nem a esposa, neste estado,

Por nos não magoarmos, ou mudarmos

Do propósito firme começado,

Determinei de assim nos embarcarmos

Sem o despedimento costumado,

Que, posto que é de amor usança boa,

A quem se aparta, ou fica, mais magoa.

"Mas um velho d'aspeito venerando,

Que ficava nas praias, entre a gente,

Postos em nós os olhos, meneando

Três vezes a cabeça, descontente,

A voz pesada um pouco alevantando,

Que nós no mar ouvimos claramente,

C'um saber só de experiências feito,

Tais palavras tirou do experto peito:

Esta estrofe contribui para o enaltecimento do herói do poema (portugueses) pois apesar da imensa dor sentida, os corajosos marinheiros ultrapassaram-na. Deste modo estes embarcam com o intuito de cumprir a sua missão.

O velho diz que, com esta viagem, muitos navegadores estarão com a alma inquieta, e promover-se-ão adultérios.

Enumeração (polissíndeto)

Não haverá fama, histórias, triunfos, palmas ou vitórias com esta navegação.

Fim da sua relação

Enumeração (polissíndeto)

Aspeto respeitável

Anáfora

O sentimento de exaltada indignação manifesta-se, sobretudo, pela utilização insistente de interrogações retóricas (“Que famas lhe prometerás? que histórias?/Que triunfos, que palmas, que vitórias?”).

—"A que novos desastres determinas

De levar estes reinos e esta gente?

Que perigos, que mortes lhe destinas

Debaixo dalgum nome preminente?

Que promessas de reinos, e de minas

D'ouro, que lhe farás tão facilmente?

Que famas lhe prometerás? que histórias?

Que triunfos, que palmas, que vitórias?

— "Mas ó tu, geração daquele insano,

Cujo pecado e desobediência,

Não somente do reino soberano

Te pôs neste desterro e triste ausência,

Mas inda doutro estado mais que humano

Da quieta e da simples inocência,

Idade d'ouro, tanto te privou,

Que na de ferro e d'armas te deitou:

Perguntas Retóricas

Anáfora

O velho encontrava-se na praia

Digna de má fama e de insultos.

Estrofes 99 e 100

A nova geração é insana, pecadora e desobediente.

Apresentam-se diversas queixas nesta estrofe, sendo a principal, os homens que abandonam os lares para embarcar numa viagem arriscada

Tinha os olhos nos tripulantes

Metáfora

"Qual em cabelo: —"Ó doce e amado esposo,

Sem quem não quis Amor que viver possa,

Por que is aventurar ao mar iroso

Essa vida que é minha, e não é vossa?

Como por um caminho duvidoso

Vos esquece a afeição tão doce nossa?

Nosso amor, nosso vão contentamento

Quereis que com as velas leve o vento?" —

"Nestas e outras palavras que diziam

De amor e de piedosa humanidade,

Os velhos e os meninos os seguiam,

Em quem menos esforço põe a idade.

Os montes de mais perto respondiam,

Quase movidos de alta piedade;

A branca areia as lágrimas banhavam,

Que em multidão com elas se igualavam.

Estrofes 89 e 90

o povo é ignorante e está enganado ao venerar Vasco da Gama e os portugueses.

O povo está a perseguir uma fantasia.

Apóstrofe

Abanava a cabeça desiludido

Disse de forma audível

O velho condena o envolvimento do país na aventura dos Descobrimentos, a que se refere de forma claramente negativa.

O reino desperdiça as tristes vidas dos navegadores.

Sentimentos do povo

Os tripulantes ouviram

Dupla Adjetivação

Com muita experiência de vida

Dupla Adjetivação

Já que, nessa prazerosa ignorância, o homem tanto empenha, arrebata a imaginação, a criatividade, que dá o nome de esforço e valentia à violenta crueldade e perversidade, visto que dá tanto valor ao desprezo pela vida, que deveria ser sempre amada e preservada, pois até quem a deu teve medo de perdê-la (refere-se a Cristo, que receou a morte, na noite anterior à sua crucificação).

— "Já que nesta gostosa vaidade

Tanto enlevas a leve fantasia,

Já que à bruta crueza e feridade

Puseste nome esforço e valentia,

Já que prezas em tanta quantidades

O desprezo da vida, que devia

De ser sempre estimada, pois que já

Temeu tanto perdê-la quem a dá:

— "Não tens junto contigo o Ismaelita,

Com quem sempre terás guerras sobejas?

Não segue ele do Arábio a lei maldita,

Se tu pela de Cristo só pelejas?

Não tem cidades mil, terra infinita,

Se terras e riqueza mais desejas?

Não é ele por armas esforçado,

Se queres por vitórias ser louvado?

Não tens os Mouros muito mais perto com quem irás sempre lutar?

Mas o género humano, descendente do insensato e demente cujo pecado provocou não somente sua expulsão e exílio (“desterro e triste ausência”) do paraíso (“reino soberano”), mas também o privou do estado de paz e de inocência da idade de ouro e colocou-o, abateu (“te deitou”) na idade do ferro e das guerras.

Tirou do seu saber, experto é

experiente

Com quem irás sempre lutar?

Realçar a ideia que os velhos e as crianças (os mais fracos) participavam nesta despedida.

Os mouros seguem o Islamismo, luta com eles.

Estrofes 101 e 102

Se tu lutas pela fé Cristã?

Tens a eternidade garantida.

Se desejas ainda mais terras?

Deixas o inimigo ficar à porta enquanto buscas por outros em terras tão longe.

Não é por armas que o vais conseguir

Valerá a Índia a despovoação do País?

Se queres ser louvado pela guerra?

Procuras o incerto e o perigo desconhecido

Porque é que a fama te honra e te elogia

A natureza responde à dor do povo

Ele pensa que a religião (a fé Cristã) devia ser espalhada no Norte de África, pois ficaria mais perto, fácil e barato.

Chamando-te senhor com abundância da Índia, Pérsia, Arábia e Etiópia?

Perguntas Retóricas

— "Deixas criar às portas o inimigo,

Por ires buscar outro de tão longe,

Por quem se despovoe o Reino antigo,

Se enfraqueça e se vá deitando a longe?

Buscas o incerto e incógnito perigo

Por que a fama te exalte e te lisonge,

Chamando-te senhor, com larga cópia,

Da Índia, Pérsia, Arábia e de Etiópia?

— "Ó maldito o primeiro que no mundo

Nas ondas velas pôs em seco lenho,

Dino da eterna pena do profundo,

Se é justa a justa lei, que sigo e tenho!

Nunca juízo algum alto e profundo,

Nem cítara sonora, ou vivo engenho,

Te dê por isso fama nem memória,

Mas contigo se acabe o nome e glória.

Portugal deveria ignorar um inimigo próximo (os Mouros), para poder controlá-lo com mais facilidade. O povo não deveria ir buscar inimigos de longe.

Perífrase

Maldito seja o inventor do primeiro barco.

É digno da pena do inferno.

Se ele segue a fé Cristã

Estrofes 103 e 104

O povo não toma decisões racionais.

Perífrase

A viagem não trará fama nem glória.

O filho de Jápeto roubou o fogo do Olimpo escondido numa estátua humana.

A glória acabará com eles.

Fogo utilizado para acender armas

Para matar e para desonrar, o que foi um grande erro

O povo não tem juízo e toma estas decisões irracionais. A viagem nunca dará fama,memória ou glória. Maldiz o inventor do primeiro barco que supostamente merece estar no inferno. Ele diz que os descobrimentos só trarão problemas.

Personificação

Teria sido muito melhor

Teria sido muito melhor e teria causado muito menos dano se não tivesses tido a força de vontade ou a coragem para transportar o fogo na estátua.

Anástrofe

Apresenta-se uma visão sobre o ambiente e os sentimentos do povo naquela praia de Belém, ao qual com uma personificação o poeta mostra a resposta da natureza

— "Trouxe o filho de Jápeto do Céu

O fogo que ajuntou ao peito humano,

Fogo que o mundo em armas acendeu

Em mortes, em desonras (grande engano).

Quanto melhor nos fora, Prometeu,

E quanto para o mundo menos dano,

Que a tua estátua ilustre não tivera

Fogo de altos desejos, que a movera!

— "Não cometera o moço miserando

O carro alto do pai, nem o ar vazio

O grande Arquiteto co'o filho, dando

Um, nome ao mar, e o outro, fama ao rio.

Nenhum cometimento alto e nefando,

Por fogo, ferro, água, calma e frio,

Deixa intentado a humana geração.

Mísera sorte, estranha condição!" —

Mães, esposas e irmãs desconfiavam do regresso das pessoas que amavam

Refere-se a Fateonte o filho de Apolo que caiu com a carruagem do pai no rio Eridiano.

Refere-se a Ícaro e Dédalo que construiram asas de cera e voaram demasiado perto do sol

Nenhuma destas ações acima referidas, dá vontade à humanidade de as repetir.

Mensagem - Mar Português (Fernando Pessoa) pág 188:

Apóstrofe

O velho relaciona a ousadia dos Portugueses com figuras mitológicas: Prometeu e Ícaro, que ousaram ir além dos seus limites para conquistar o fogo e o ar e foram severamente castigados.

Em conclusão, o descontentamento do ser humano é uma "Estranha condição" que pode conduzir à desgraça.

No sentido de causar sofrimento

O sal é sinónimo de dor

Cruzarmos, remonta para a cruz

Ó mar salgado, quanto do teu sal

São lágrimas de Portugal!

Por te cruzarmos, quantas mães choraram,

Quantos filhos em vão rezaram!

Quantas noivas ficaram por casar

Para que fosses nosso, ó mar!

Hipérbato

Sintetização das desgraças causadas pelos Descobrimentos

Anáfora

Enumeração (Assíndeto)

Mensagem - Mar Português (Fernando Pessoa) pág.188:

O povo estava triste pois não acreditava no sucesso desta viagem. Criando assim um ambiente pesado.

Dupla adjetivação

O porquê dos Descobrimentos não terem sido em vão.

Em tão longe caminho e duvidoso Caminho marítimo até à Índia

Por perdidos as gentes nos julgavam; Pensamento do Povo

As mulheres c`um choro piedoso, Dor e aflição

Os homens com suspiros que arrancavam Suspiros fortes e frios

Mães, esposas, irmãs, que o temeroso

Amor mais desconfia, acrescentavam

A desesperação, e frio medo, Desespero e medo

De já nos não tornar a ver tão cedo Exaltação das famílias

"Qual vai dizendo: —" Ó filho, a quem eu tinha Mulher fala do seu filho

Só para refrigério, e doce amparo Consolava-lhe a alma

Desta cansada já velhice minha, Pessoa com alguma idade

Que em choro acabará, penoso e amaro, Desespero pela morte

Por que me deixas, mísera e mesquinha?

Por que de mim te vás, ó filho caro,

A fazer o funéreo enterramento,

Onde sejas de peixes mantimento!" —

Tudo vale a pena se a intenção de vencer for maior.

Valeu a pena? Tudo vale a pena

Se a alma não é pequena.

Quem quer passar além do Bojador

Tem que passar além da dor.

Deus ao mar o perigo e o abismo deu,

Mas nele é que espelhou o céu.

Para atingir um objectivo é necessário esforçar e sofrer.

Deus criou o mar cheio de contratempos.

Mas foi nele que o céu, paraíso, foi refletido.

Personificação

Com este poema o poeta transmite que o sofrimento é o preço a pagar pelas grandes glórias.

Apóstrofe

Perguntas do livro (pàg.139 e 189):

O Velho do Restelo

O "Velho do Restelo" é uma criação de Camões com um profundo significado simbólico, não sendo uma personagem histórica, que no seu discurso defende um princípio.

Poderá por isso ser considerado uma personagem alegórica.

O que critica?

O que propõe?

Preferia que a expansão do país fosse feita por terras mouriscas pelo no Norte de África.

Considera que criar um império colonial no Oriente envolvia demasiados custos e os resultados eram duvidosos.

Defende que é preferível a tranquilidade de uma vida mediana.

Critica a promessa de riquezas que, geralmente, se traduzem em desgraças.

A mãe questiona-se sobre

a decisão do filho

Funeral do filho

Onde irá ser alimento dos peixes

Perífrase

Apresentam-se diversas queixas nesta estrofe sendo a ideia de afastamento a principal, visto que os filhos que deveriam acompanhar os pais e ajudá-los decidem embarcar numa viagem perigosa afastando-se dos pais.

Anáfora

Introdução

Com este trabalho pretendemos explicar cada uma das estrofes do episódio "Velho do Restelo" (canto IV d`Os Lusíadas) e relacioná-las com o poema "Mar Português" de Fernando Pessoa. Embora tenham sido publicados com quase quatro séculos de diferença ambos tratam da partida de Belém. Iremos analisar os recursos estilísticos presentes neste canto e os argumentos do Velho do Restelo.

Para terminar gostariamos de pedir que atentem ao trabalho pois no final iremos fazer perguntas relacionadas com o tema.

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