Dançar à Vida
Prof. Demerson Godinho Maciel
Boas Vindas
(Dança Sênior®)
Cumprimenta o par, ou Como é bom te ver,
E o contra-par. ou E te encontrar.
Cumprimenta o par, ou Como é bom te ver,
E o contra-par. ou E te encontrar.
Com o pé direito, com o pé direito,
Vou caminhar.
Com o pé esquerdo, com o pé esquerdo,
Pra te encontrar.
Vamos dar e receber,
Doar e agradecer,
Em sua companhia
É muito mais gostoso de se ter
A dança da vida
"Que aconteceria se, em vez de apenas construirmos nossa vida, tivéssemos a loucura ou a sabedoria de dançá-la?"
(GARAUDY, p.13, 1980)
Dança
da Vida
Escreva sua própria definição
Ensaio
A dança é uma das raras atividades humanas em que o homem se encontra totalmente engajado: corpo, espírito e coração (BÉJART, In GARAUDY, 1980).
Ensaio
A dança é um modo de existir
Viver
A própria palavra dança, em todas as línguas européias - danza, dance, tanz -, deriva da raiz tan que, em sânscrito, significa "tensão" Dançar é vivenciar e exprimir, com o máximo de intensidade, a relação do homem com a natureza, com a sociedade, com o futuro e com seus deuses (GARAUDY, p.14, 1980).
Dançar é, antes de tudo, estabelecer uma relação ativa entre o homem e a natureza, é participar do movimento cósmico e do domínio sobre ele.
A dança é então um modo total de viver o mundo: é a um só tempo, conhecimento, arte e religião.
Amar
Sabedoria plenária para a qual Deus é a força criadora que está sempre nascendo e que é sempre ativa no coração de toda a existência.
Ela nos revela que o sagrado é também carnal e que o corpo pode ensinar o que um espírito que se quer desencarnado não conhece: a beleza e a grandeza do ato quando o homem não está separado de si mesmo, mas inteiramente presente no que faz.
Este enriquecimento da vida, experimentamo-lo quando a dança exerce sobre nós o fascínio do mar, das nuvens, do fogo ou do amor.
Porque o amor, como a dança, precedeu o desabrochar do homem: entre os insetos, os pássaros e muitas espécies animais, a dança faz parte do ato do amor.
A dança não é apenas expressão e celebração da continuidade orgânica entre homem e natureza. É também realização da comunidade viva dos homens.
Dançar
Em cada um de nossos gestos, toda a palpitação do mundo, todas as suas interações estão presentes, refletem-se e se repetem, concentram-se como em um espelho convergente. Neste diálogo de movimento entre nosso ser íntimo e o todo, é a invisível e incessante vida do todo que respira com nosso alento e pulsa com o nosso sangue. Viver é, antes de mais nada, participar desse fluxo e dessa pulsação orgânica do mundo que está em nós, desse movimento, desse ritmo, dessa totalidade, porque, mesmo durante nosso sono, vela em nosso peito a lei da dupla batida, a da nossa respiração e a do nosso coração.
A arte é o caminho mais curto entre dois homens
Aplausos
O caminho mais curto porque não comporta a mediação abstrata, impessoal, do conceito e da palavra. Contra o grande racionalismo de Sócrates, de Leibniz e de Hengel, e contra o pequeno racionalismo positivista de Augusto Comte, para os quais nada tem sentido ou mesmo existência real fora do que pode ser reduzido à razão, a seus conceitos e seus discursos, o "diálogo das civilizações" com as culturas não-ocidentais ajuda-nos a tomar consciência do componente estético de nossa aproximação da vida, e de sua dignidade, que não é inferior à do componente lógico. Em nossa tradição ocidental, o componente estético é tido como residual! Lugar algum é reservado para o que, por exemplo, o taoísmo chama de o "não saber"" isto é, na verdade, um saber não mediato, a ação ou a contemplação pelas quais coincidimos com o movimento do ser.
Se é verdade que, como mostrou Nietzsche, desde Sócrates temos o hábito de subestimar a importância de tudo o que escapa à rede de nossos procedimentos puramente intelectuais, a nossas hipóteses, a nossas deduções, a nossas verificações, às dialéticas de nossos conceitos e de nossas linguagens, a experiência estética nos ajuda a abranger as realidades maiores que escapam àquelas apropriação de tipo puramente intelectual.
Pausa
Na Quermesse (Dança Sênior®)
A Dança de Shiva
Dança
de Shiva
Quando Shiva dança, o Universo renasce.
O Universo que, vindo de sua longa ronda de existência, necessita se reconciliar consigo mesmo, se contraindo para então, novamente se expandir.
Shiva é o Destruidor e, simultaneamente, o Criador.
Seu caráter masculino e feminino inclui todos os opostos e todas as ambiguidades da Vida, e é com sua dança que Shiva acolhe em si mesmo o mais extraordinário de todos os mistérios: o mistério da Morte e do Renascimento.
Após ter criado todos os mundos. Ele, que é o Protetor, no final do tempo faz retroceder os mundos ao lugar de origem no seu próprio interior.
Protetor
SVETASVATARA UPANISHAD, III, 2, In SOUZA, 2010).
Destruidor
Dar o nome de destruição ao final do Universo talvez seja para os poetas, cuja palavra singular apenas quer se inventar e reinventar nas esquinas,
Embora a máscara de Shiva em sua negra aventura seja a do Destruidor.
Mas ele é Outro.
Foi do mesmo modo que, a partir de um minúsculo ponto há bilhões e bilhões de anos, o Universo passara incomodado da condição de Não-Existência
À de Manifestação.
Neste espaço de tempo, com sua dança, Shiva, lavrador do desastre, levaria o Universo novamente ao mergulho na Não-Existência,
Incinerando vivos e mortos.
Para nós, deuses e homens, andarilhos de tantas religiões,
Este sentido do belo, este estado de pureza e revelação é inconcebível, e somente Shiva, com sua dança, detém o mistério e sabe nomeá-lo.
O Fim do Mundo viera como princípio superior, destino de onde regressamos, quase sempre tarde demais.
Divino
A dança do deus Shiva tem por tema a atividade cósmica: "Nosso Deus, diz um hino sagrado da Índia, é o deus dançarino que, como o fogo que abrasa a madeira, irradia seu poder no espírito e na matéria, e os arrasta, por sua vez, para a dança".
A dança de Shiva exprime as cinco atividades divinas:
(SOUZA, p. 15, 2010)
A criação contínua do mundo, pois do ritmo desta dança o universo nasceu e se expande
Criação
A manutenção deste universo, pois o equilíbrio deste cosmos em movimento incessante só se conserva pelo ritmo da dança;
Manutenção
A destruição, pois as formas se destroem para que outras possam nascer infinitamente, e Shiva dança em meio às chamas dos palácios incendiados.
Destruição
Reencarnação
A reencarnação, pois a dança de Shiva mostra o percurso através de diversas vidas, para além das ilusões de existências limitadas.
Salvação
A salvação, enfim, ou a libertação última pela qual cada um toma consciência do que é por toda a eternidade: um momento da atividade rítmica de Shiva, o deus que dança.
Significado da Dança de Shiva
A Dança
... de início a dança é a imagem do jogo rítmico, fonte de todo o movimento do ser; em seguida, libera o homem ilimitado da ilusão de ser um indivíduo aprisionado nas fronteiras de sua pele: seu corpo e seu ser são o universo inteiro; finalmente, o "lugar"da dança, o centro do universo, está no coração de todos os homens.
(COOMARASWAMY, In SOUZA, p. 15/16, 2010)
Correspondências
O que é a dança? Onde estaria a dança?
Quem dança? Que dança? O que pode a dança? Para que a dança?
Diálogo
Dança
Perguntas que foram se propondo à atenção. Pensamentos envoltos nos fios espinhosos da busca fazendo-se corpos-palavras (...). A busca caracterizada mais pela atenção ao buscar do que pela obrigação de encontrar.
(TIBURI; ROCHA, p. 7/8, 2012)
Caro colega,
Diálogo
Eu não danço. Nunca dancei. Se pergunto o que é dançar, como você pode me responder, a mim, que não tenho a experiência da dança? A mim, que sempre vi a dança como uma vertigem... A dança como uma coisa-dança. Eu que não sei dançar, queria saber o que é dançar. Minha pergunta é um jeito de chegar perto da dança. Se eu dançasse ainda precisaria da pergunta?
(TIBURI; ROCHA, p. 9, 2012)
Do que é dançar mal posso pronunciar a resposta. Objeto fugidio cuja pronúncia do nome já me escapa pelos dedos, aquilo que enuncio.
Resposta
(TIBURI; ROCHA, p. 10, 2012)
Continuação
A questão toda da dificuldade de sua proposição, para mim, talvez recaia no o que é. O que é a dança? Fico pensando se não seria sempre mais apropriado dizer "A dança é" Um pensamento sem predicação. Será isso possível?
(TIBURI; ROCHA, p. 11, 2012)
Caro Colega,
Réplica
Quando você propões que a dança é penso se isso significaria a pura ação. Ou a ação enquanto vai além de si mesma? O anacoluto de um pensamento sem predicação como um sujeito sem objeto, ou a pura predicação como um objeto sem sujeito, ou uma fala externa, uma exposição que não se pode dizer como "fala"" pois, na verdade, escaparia do "dizer"?
(TIBURI; ROCHA, p. 15, 2012)
A dança é a arte do corpo em movimento.
Dança
(TIBURI; ROCHA, p. 5, 2012)
Corpo
Ao dançar posso dizer: sei que nada sei. Pois é meu corpo que sabe e que não sabe enquanto sabe.
(TIBURI; ROCHA, p. 13, 2012)
Ação
Assim, falar de dança parece mais questão de ação para além do conceito. Mas há também o conceito que nos faz pensar nela.
(TIBURI; ROCHA, p. 12, 2012)
Vertigem
Talvez o conceito de dança seja um conceito-vertigem, ou seja, aquele que não nos permite um desenho antes que seja experimentada a coisa.
(TIBURI; ROCHA, p. 13, 2012)
Conceito
(...) da dança só se poderia saber o que ela é a posteriori, e ainda assim é preciso supô-la uma questão de conceito. Só que o conceito da dança talvez nasça de uma fantasia. O Conceito nasce do abismo da experiência que, mesmo de mãos dadas com a fantasia, sempre é por ela enfraquecido.
(TIBURI; ROCHA, p. 9, 2012)
(...) a história do pensamento é só um recorte informativo da existência, não a existência, é somente um tipo de memória em que se arquiva o que sobrou do pensado. E o pensado é somente uma parte do vivido. Não o que foi vivido, mas o que se pensou enquanto se vivia e que é, ele mesmo, vivência, essa película fina que conseguimos apreender do que nos acontece.
Arte
(TIBURI; ROCHA, p. 20, 2012)
Arte
Mesmo a arte, como lugar, foi objeto do pensamento apenas em sistemas como algo marginal.
A dança é ainda mais marginal para o pensamento que acredita no mundo pelo olhar. A dança sustenta a experiência dela mesma (como coisa no mundo) na base dos sentidos sobre os quais podemos dizer muito pouco.
Dança
(TIBURI; ROCHA, p. 21, 2012)
Poderia supor que o vazio de sentido é, na verdade, totalmente sinuoso? Seria a dança esse vazio sinuoso que confunde o olhar sob a lente da razão?
E o corpo que dança. Posso pensar a dança sem pensar o corpo antes dela? Seria a dança uma predicação do corpo?
Predicado
(TIBURI; ROCHA, p. 22, 2012)
Os Ritmos
da Alma
A Alma
e a Dança
Liberdade
Alguma coisa dentro de mim começava a despertar. Alguma coisa assustadora. Alguma coisa enorme, que ligava minha cabeça aos meus quadris, e os meus quadris às minhas mãos, e as minhas mãos ao meu coração, e o meu coração aos meus pés, até sentir que estava por todo o lugar e em lugar algum em particular.
(ROTH, p. 18, 1997)
Eu estava perplexa ao ver como eram travados e inibidos os movimentos daqueles dançarinos.
(...) tentei afogar as vozes em suas cabeças.
Corpo
(...) seus demônios não querem que elas dancem.
(...) o corpo não consegue mentir. Coloque-o em movimento e a verdade virá à tona.
(ROTH, p. 20, 1997)
(...) nenhum dos meus alunos sabia como respirar. Não respiravam abaixo do pescoço, como se a única parte deles que julgavam digna de ser mantida viva fosse a cabeça
Respiração
Eu queria que a respiração se soltasse, bem como liberar todas as energias reprimidas no corpo e que bloqueavam o seu movimento, impedindo-lhe a respiração.
A maioria de nós sente um profundo medo do corpo.
(ROTH, p. 21, 1997)
Êxtase
A alma não estava perdida; fora enterrada no fundo dos nossos ossos, empurrada para baixo por séculos de tradições destinadas a controlar nossos anseios naturais em direção ao êxtase. Tornamo-nos alienados de nós mesmos como seres sagrados.
(ROTH, p. 22, 1997)
Ritmos
Agora eu sabia o que os meus alunos queriam do meu trabalho, mesmo que eles não o soubessem, mesmo que não tivessem uma palavra para isso, o que estivessem muito assustados para admitir. Eles queriam êxtase e eu estava determinada a descobrir uma maneira de levá-los até esse espaço sagadro.
(ROTH, p. 22, 1997)
Fluente
Depois disso, notei uma mudança no meu ensinamento; passei a olhar para os corpos com um novo olhar. Fiquei resolutamente determinada a encontrar o fluxo de energia de cada pessoa.
Onde começava, onde parava, que tipo de ritmo parecia ligá-lo ou desligá-lo. O instinto disse-me que você é como você se movimenta. Essa era a chave para o meu conhecimento emergente.
Fluente
Tentei aprender por intuição qual a energia que eu habitava durante o meu transe num esforço para entender esse espaço. Eu queria saber como entrava e como saía do estado estático.
Sabia que ele começava nos pés, em seguida subia para a barriga e daí para as mãos (...) eu inalara o ritmo e caíra num continuum de movimento sem quebras, sem margens, um círculo antigo, um espaço sem tempo (...)
(ROTH, p. 23, 1997)
Staccato
Compreendi que eu era investida de uma energia diferente quando ensinava. Não era mais a meu próprio respeito, mas a respeito de se fazer ligações com os outros.
Eu não podia me perder no ciclo de minha própria energia; eu tinha de atingir e de tocar o coração dos meus alunos (...); dá forma e molde aos nossos anseios.
Era o fio que ligava cada um de nós ao outro e às batidas do nosso próprio coração.
Comecei a fazer com que as pessoas se movimentassem como as batidas dos seus corações - percurssivas, curtas, com movimentos abruptos, exalando, deixando ir, confiando.
(ROTH, p. 23, 1997)
Caos
Certa noite, depois de uma dança séria, o suor pingando e sentindo-me totalmente eletrizada, entreguei-me a uma atração fatal por um macérrimo garoto branco. Não era uma daquelas noites do tipo vapt-vupt-bum-obrigado-madame.
Ele me encontrou no meu ritmo natural, no meu fluxo. nossos corpos se fundiram e ele seguia os meus movimentos.
À medida que a energia aumentava, a dinâmica mudava. Agora eu estava seguindo, deslizando para dentro da batida de fundo do seu coração (...)
Éramos uma imensa batida de coração que continuava bombeando e bombeando até que nos impelisse por cima das fronteiras rumo a um pulsante espaço primordial de completa capitulação.
(ROTH, p. 23, 1997)
Lírico
Ele não ouvia apenas as minhas palavras, mas, também, o espaço entre elas. Ele rastreava minha alma através do meu corpo, sentindo mágoas e atitudes desde há muito enterradas em formas silenciosas, que ele procurava consolar com suas mãos.
Ele continuava sondando, sempre insatisfeito, até que tocou meu segredo mais profundamente enterrado (...)
Era um estado de ser que me sentia arrebatada, e sabia que ele estava profundamente ligado à alma.
Para alguém que passara toa a sua vida faminta de espírito, que ironia descobrir novos níveis de despertar (...)
Totalmente vencida pelas forças da natureza, vivenciei uma nova leveza de ser, o transe no transcendental.
(ROTH, p. 24, 1997)
Quietude
(...) juntos, caímos em quietude, um estado que, eu acho, somente o Deus que existe dentro de nós conhece.
No ventre da beatitude, descobri uma nova dança, uma dança que reconheci, mas que tenho evitado desde a infância, quando temia que, se me sentasse quieta, o meu mundo pararia e eu cairia para fora dos seus limites.
O mundo parou, mas não havia razão para ficar assustada.
(ROTH, p. 24, 1997)
Alma
Sinto a alma no meu corpo quando danço, quando faço amor e, na maior parte do tempo, entre ambos.
E quando observo meus alunos dançando também vejo a alma em seus corpos.
No entanto, sua luz é, com frequência, ofuscada por véus de inércia.
Não consigo deixar de querer seduzi-los a rasgar esses véus e a revelar a luz da sua divindade.
Porém, sei que para alcançar a luz temos primeiro de viajar para dentro do coração das trevas.
Afinal, a luz não é criada
a partir dela?
(ROTH, p. 25, 1997)
2/4
Creio que cada um de nós retém, no seu âmago, uma centelha da luz original da criação.
Vejo-a brilhar nos rostos e nos corpos das pessoas quando dançam.
Sob mil maneiras, foi-me revelado que Deus é a dança e que precisamos apenas desaparecer nela para liberar os aspectos sexual, criativo e sagrado da alma.
(ROTH, p. 25, 1997)
O ritmo é nossa língua mãe.
Quando me rendi ao abraço selvagem e estático da dança, descobri uma linguagem de padrões em que posso confiar para que ela nos liberte ao âmbito das verdades universais, mais antigas do que o tempo.
No ritmo do corpo, podemos rastrear nossa santidade, raízes que remontam totalmente até o zero.
Estados de ser em que todas as identidades se dissolvem num eterno fluxo de energia.
3/4
(ROTH, p. 26, 1997)
A energia move-se em ondas.
Ondas movem-se em padrões.
Padrões movem-se em ritmos.
Um ser humano é apenas isso, energia, onda, padrões, ritmos.
Nada mais. Nada menos.
Uma dança
4/4
(ROTH, p. 26, 1997)