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Transcript

Alguma poesia

Carlos Drummond de Andrade

...sua vida

No meio do caminho...

Nasceu em 31 de outubro de 1902 em Itabira do Mato Dentro

Estudou em colégios internos na adolescência, em BH e Nova Friburgo

Primeiros passos

Início da carreira

Em 1921, começou publicando artigos no Diário de Minas;

Em 1922 venceu o "Concurso Novela Mineira", com o conto "Joaquim do telhado";

Formou-se em farmácia, casou-se com Dolores de Morais e fundou "A Revista", em 1925;

Lecionou em Itabira e foi para BH

Anos de trabalho intenso

Consolidação

Nos anos seguintes trabalharia como redator no Diário de Minas;

Em 1928, publicou "No meio do caminho" na Revista de Antropofagia em SP;

Ingressa no serviço público na Secretaria do Interior

Em 1930 publica "Alguma poesia";

Em 1942 publica seu livro de prosa, "Confissões de Minas";

Entre 45 e 62 trabalhou no Serviço histórico e Artístico Nacional

Consagração

Foi premiado pelo conjunto de sua obra em 1946;

Entre 60 e 70 se dedicou à produção de crônicas e poesias;

Seu estilo é caracterizado pela observação do cotidiano atavés da lente irônica, pessimista e humorada;

Traduziu Balzac, Carcia Lorca e Molière;

Morreu em 17 de agosto de 1987, no Rio, depois da morte da única filha.

Algumas obras

Ciclo, 1957

Fala, Amendoeira, 1957

Poemas, 1959

A Vida Passada a Limpo, 1959

Lições de Coisas, 1962

A Bolsa e a Vida, 1962

Boitempo, 1968

Cadeira de Balanço, 1970

Menino Antigo, 1973

As Impurezas do Branco, 1973

Discurso da Primavera e Outras Sombras, 1978

O Corpo, 1984

Amar se Aprende Amando, 1985

Elegia a Um Tucano Morto, 1987

No Meio do Caminho, 1928

Alguma Poesia, 1930

Poema de Sete Faces, 1930

Cidadezinha Qualquer e Quadrilha, 1930

Brejo das Almas, 1934

Sentimento do Mundo, 1940

Poesias e José, 1942

Confissões de Minas, 1942

A Rosa do Povo, 1945

Poesia até Agora, 1948

Claro Enigma, 1951

Contos de Aprendiz, 1951

Viola de Bolso, 1952

Passeios na Ilha, 1952

Fazendeiro do Ar, 1953

...tinha uma pedra.

Alguma poesia

Primeiro livro de Drummond

Reúne 49 poesias, algumas já publicadas, escritas desde 1925

Seu poema mais famoso, "No meio do caminho", causou indignação à época

- Águas de março

- Retrato em branco e preto

- Quadrilha

No meio do caminho

No meio do caminho tinha uma pedra

tinha uma pedra no meio do caminho

tinha uma pedra

no meio do caminho tinha uma pedra.

Nunca me esquecerei desse acontecimento

na vida de minhas retinas tão fatigadas.

Nunca me esquecerei que no meio do caminho

tinha uma pedra

tinha uma pedra no meio do caminho

no meio do caminho tinha uma pedra.

Quando nasci, um anjo torto

desses que vivem na sombra

disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.

As casas espiam os homens

que correm atrás de mulheres.

A tarde talvez fosse azul,

não houvesse tantos desejos.

O bonde passa cheio de pernas:

pernas brancas pretas amarelas.

Para que tanta perna, meu Deus, pergunta meu coração.

Porém meus olhos

não perguntam nada.

O homem atrás do bigode

é sério, simples e forte.

Quase não conversa.

Tem poucos, raros amigos

o homem atrás dos óculos e do bigode.

Poema de sete faces

Meu Deus, por que me abandonaste

se sabias que eu não era Deus

se sabias que eu era fraco.

Mundo mundo vasto mundo,

se eu me chamasse Raimundo

seria uma rima, não seria uma solução.

Mundo mundo vasto mundo,

mais vasto é meu coração.

Eu não devia te dizer

mas essa lua

mas esse conhaque

botam a gente comovido como o diabo.

Não há mais Turquia.

O impossível dos serralhos esfacela erotismos prestes a declanchar.

Mas a Rússia tem as cores da vida.

A Rússia é vermelha e branca.

Sujeitos com um brilho esquisito nos olhos criam o filme

[bolchevista e no túmulo de Lênin em Moscou parece

[que um coração enorme está batendo, batendo

mas não bate igual ao da gente...

Chega!

Meus olhos brasileiros se fecham saudosos.

Minha boca procura a “Canção do Exílio”.

Como era mesmo a “Canção do Exílio”?

Eu tão esquecido de minha terra...

Ai terra que tem palmeiras

onde canta o sabiá!

Meus olhos brasileiros sonhando exotismos.

Paris. A torre Eiffel alastrada de antenas como um caranguejo.

Os cais bolorentos de livros judeus

E a água suja do Sena escorrendo sabedoria.

O pulo da Mancha num segundo.

Meus olhos espiam olhos ingleses vigilantes nas docas.

Tarifas bancos fábricas trustes craques.

Milhões de dorsos agachados em colônias longínquas formam

[um tapete para sua Graciosa Majestade Britânica pisar.

E a lua de Londres como um remorso.

Submarinos inúteis retalham mares vencidos.

O navio alemão cauteloso exporta dolicocéfalos arruinados.

Hamburgo, embigo do mundo.

Homens de cabeça rachada cismam em rachar a cabeça dos

[outros dentro de alguns anos.

A Itália explora conscienciosamente vulcões apagados,

Vulcões que nunca estiveram acesos

A não ser na cabeça de Mussolini.

E a Suíça cândida se oferece

Numa coleção de postais de altitudes altíssimas.

Europa, França e Bahia

Ponho-me a escrever teu nome

com letras de macarrão.

No prato, a sopa esfria, cheia de escamas

e debruçados na mesa todos contenmplam esse romântico trabalho.

Desgraçadamente falta uma letra,

uma letra somente

para acabar teu nome!

— Está sonhando? Olhe que a sopa esfria!

Eu estava sonhando...

E há em todas as consciências um cartaz amarelo:

“Neste país é proibido sonhar.”

Sentimental

Casas entre bananeiras

mulheres entre laranjeiras

pomar amor cantar.

Um homem vai devagar.

Um cachorro vai devagar.

Um burro vai devagar.

Devagar... as janelas olham.

Eta vida besta, meu Deus.

Cidadezinha qualquer

João amava Teresa que amava Raimundo

que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili

que não amava ninguém.

João foi pra os Estados Unidos, Teresa para o convento,

Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia,

Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes

que não tinha entrado na história.

Quadrilha

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