Universidade Estadual de Ciências da Saúde de Alagoas - UNCISAL
Programa de Residência de Enfermagem em Emergência geral e APH
Cardiopatia e choque cardiogênico na gestação
Juliana Barbosa Barros Nunes
Enfermeira Residente em Emergência geral e APH
Epidemiologia
Doença cardíaca:
- Atinge 1% das gestantes;
- 20% dos óbitos maternos;
- 10 a 15% das pacientes com doença cardíaca na gravidez não têm história prévia da condição.
Gestante cadiopata
- Países desenvolvidos:
- 50% das cardiopatias da gestação são originadas de doenças cardíacas congênitas;
- Países em desenvolvimento:
- Estenose mitral por doenças reumáticas, acometendo 7 a cada 10 gestantes cardiopatas antes dos 30 anos.
Mortalidade materna:
"morte de uma mulher durante a gestação ou até 42 dias após o término da gestação, independente da duração ou da localização da gravidez, devido a qualquer causa relacionada com ou agravada pela gravidez ou por medidas em relação a ela, porém não devida a causas acidentais ou incidentais" (DATASUS).
(MONTENEGRO, REZENDE, 2017).
EPIDEMIOLOGIA
Epidemiologia
- 0,3% a 4% de cardiopatias na gestação;
- 11% evoluem para o óbito materno;
- Etiologia varia conforme população;
- Brasil: predomínio de doenças cardíacas adquiridas, como as valvopatias reumáticas;
- Países desenvolvidos: cardiopatias congênitas.
(TESTA, BORTOLOTTO, 2018).
IAM
Sinais e sintomas:
- Epigastralgia;
- Dispepsia;
- Dispnéia;
- Hipotensão;
- Naúsea/vômito;
- Sudorese;
- Síncope;
- Sinal de levine.
IAM
- Aumento da incidência de IAM na gestação:
- Obesidade;
- HAS;
- DM;
- Concepção em idade tardia.
(MONTENEGRO, REZENDE, 2017).
Alterações do sistema cardiovascular (gestação):
Diagnóstico
Fonte: TESTA, BORTOLOTTO, 2018.
Diagnóstico
- Sintomas confundem-se com os de uma gravidez normal:
- Dispneia; Taquicardia; Palpitação;
- Síncope; Sopro sistólico; Edema dos membros inferiores.
- Fatores decisivos para diagnóstico:
- Arritmias, sopro diastólico, sopro sistólico de no mínimo 3 cruzes e aumento da área cardíaca.
(MONTENEGRO, REZENDE, 2017).
Classificação funcional da cardiopatia
Classificação
(MONTENEGRO, REZENDE, 2017).
Estratificação do risco materno em função do tipo de doença
Fonte: TESTA, BORTOLOTTO, 2018 (adaptado da OMS).
Preditores negativos
Preditores negativos
Fonte: TESTA, BORTOLOTTO, 2018.
Aconselhamento pré-concepcional
Fonte: MONTENEGRO, REZENDE, 2017.
Puerpério
- Fase mais perigosa: tendência a hipercoagulabilidade (alterações hemodinâmicas e coagulação do puérpério precoce);
- Puerpério imediato: UTI
- Sinais de sobrecarga de volume;
- Ausculta pulmonar;
- FC; PA;
- Diurese;
- Perdas sanguíneas;
- Alta tardia, ajuste de medicação e retorno precoce;
- Contraindica-se: lactação, uso de amiodarona e imunossupressores.
- Fármacos utilizados para inibição da lactação aumentam o risco de vasoespasmo e de trombose.
(TESTA, BORTOLOTTO, 2018).
Tratamentos
- Poucas medicações para cardiopatias são contraindicadas na gestação;
- Interrupção abrupta do tratamento é a principal causa de descompensação clínica;
- Deve-se suspender: ECA, antagonistas dos receptores de angiotensina e Estatinas;
- Hipercoagulabilidade da gravidez: terapêutica antitrombótica (Heparina);
- Proteses valvares mecanicas ou FA crônica: anticoagulação plena:
- Heparina de baixo peso molecular: 1º trimestre;
- Varfarina: 13ª a 36ª semanas;
- Com 36 semanas ou até 2 semanas antes do parto trocar por Heparina de baixo peso molecular, com controle de atividade heparinica.
- 3 dias após o parto realiza-se a transição para anticoagulação oral.
(TESTA, BORTOLOTTO, 2018).
Procedimentos cardiológicos
- Cardioversão:
- Química: Sem risco para o concepto, deve ser utilizada quando indicada.
- Elétrica: Sem efeitos deletérios ao feto, realiza-se sob sedação.
- Valvoplastia percutânea por balão, ablação por cateterismo e cirurgia cardíaca durante a gravidez:
- Indicadas apenas em casos de descompensação grave refratária ao tratamento clínico.
- Preferencialmente no 3º trimestre.
Atenção
- O risco de descompensação clínica e morte em mulheres portadoras de doenças cardíacas é aumentado no período gravídico-puerperal;
- Os períodos de maior probabilidade de descompensação clínica são terceiro trimestre, parto e puerpério precoce;
- A inibição de trabalho de parto prematuro em gestantes cardiopatas com repercussão clínica está contraindicada;
- Não há necessidade de antecipação do parto ou de cesárea na maioria das pacientes com cardiopatia.
- A cesárea é recomendável em situações de risco de dissecção de aorta e em mulheres sob anticoagulação com varfarina. Nos outros casos, a via de parto tem indicação obstétrica;
- Recomenda-se programação do parto em mulheres com risco de descompensação ou que exijam cuidados especiais.
(TESTA, BORTOLOTTO, 2018).
Definição: É uma condição de profundo distúrbio hemodinâmico e metabólico, caracterizada por insuficiência do sistema circulatório em manter adequada perfusão aos tecidos.
Choque cardiogênico
Choque
Classificação do choque em obstetrícia:
- Choque hipovolêmico;
- Choque distributivo;
- Choque obstrutivo;
- Choque cardiogênico.
(MONTENEGRO, REZENDE, 2017).
Fisiopatologia
FISIOPATOLOGIA
DO CHOQUE
(MONTENEGRO, REZENDE, 2017).
Choque cardiogênico
na gestante
Causado por patologias cardíacas que levam à falência da bomba e a redução do débito cardíaco.
Causas de choque cardiogênico:
- Cardiomiopatias;
- Arritmias;
- Mecânicas.
Choque cardiogênico
Causas na gestante:
- Infarto agudo do miocárdio;
- Cardiomiopatia periparto.
(MONTENEGRO, REZENDE, 2017).
Cardiomiopatia periparto
Caracterizada por uma disfunção sistólica ventricular esquerda que surge entre o último trimestre da gravidez e o período pós-parto precoce, em mulheres previamente saudáveis.
Cardiomiopatia
É um tipo de cardiomíopatia dilatada relacionada com a gravidez em mulheres sem história de doença cardíaca.
Incidência: tem uma grande variabilidade geográfica – mostra-se mais frequente no Haiti e na África do Sul e menos frequente nos Estados Unidos da América e em Israel.
Possui elevada mortalidade materna em decorrência de insuficiência cardíaca, arritmia ou embolia.
(CARVALHO, 2016; MONTENEGRO, REZENDE FILHO, 2017).
Características e
Fatores de risco
Características
Características:
- Insuficiência cardíaca no último mês de gravidez ou primeiros 5 meses do pós-parto;
- Ausência de outra causa identificável para insuficência e disfunção ventrícular esquerda à ecocardiografia.
Fatores de risco:
- Idade materna >35 anos;
- Multiparidade >3 partos;
- Gemelaridade;
- Afrodescendência;
- Uso de tocolíticos.
(MONTENEGRO, REZENDE FILHO, 2017)
Etiologia
Prolactina
- A prolactina (PRL) é um hormônio secretado pela adeno-hipófise na gravidez e no pós-parto que estimula a produção de leite.
- O fragmento da prolactina, a prolactina 16 kDa tem sido considerada na etiopatogenia da cardiomiopatia periparto.
- A bromocriptina é um medicamento que inibe a secreção hipofisária de PRL e, por esse motivo, vem sendo proposta no tratamento da cardiomiopatia periparto.
(MONTENEGRO, REZENDE, 2017).
IAM (SCA)
IAM
- 1:10.000 gestações;
- Mortalidade materna de 5% a 10%;
- Risco na gravidez está aumentado de 2 a 4 vezes e nos primeiros dias do pós-parto em 6 vezes;
- 30X maior em mulheres >40 anos;
- Pode ocorrer em qualquer estágio da gestação;
- Diagn´óstico:
- Considerar que ondas T negativas no eletrocardiograma de gestantes podem acontecer mesmo na ausência de isquemia.
- A elevação das enzimas cardíacas, especialmente a troponina I, constitui o melhor marcador.
Tratamento
Tratamento
- MONAB;
- IAM com supra de ST:
- Encaminhar para centro de tratamento;
- ATC em até 90 min:
- STENT não farmacológico;
- Trombolíticos devem ser usados em substituição à angioplastia coronariana apenas em situações de IAM grave sem possibilidade de encaminhar paciente a centro que disponha de unidade de hemodinâmica.
- SCA sem supra de ST e anginas instáveis: tratar como a população geral.
- MOVE (Monitorização, oxigênio suplementar, AVP, ECG.
- Tratamento farmacológico.
Referências
CARVALHO, M. L. R. Cardiomiopatia Periparto. 2016. (Mestrado Integrado em Medicina). Instituto de Ciências Biomédicas de Abel Salazar, Porto, 2016. Disponível em: https://repositorio-aberto.up.pt/bitstream/10216/88110/2/170934.pdf>. Acesso em: 25 out. 2020.
TESTA, C.B., BORTOLOTTO, MR.. Manejo clínico e conduta obstétrica em gestantes cardiopatas. São Paulo: Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo); 2018. (Protocolo Febrasgo – Obstetrícia, nº 85/Comissão Nacional Especializada em Gestação de Alto Risco). Disponível em: https://www.febrasgo.org.br/media/k2/attachments/Vol.Z47ZnZ6Z-Z2019.pdf. Acesso em: 15 out. 2020.
MONTENEGRO, C.A.B.; REZENDE, J.F. Obstetrícia Fundamental, 13 ed,. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2017).
Referências