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Transcript

O tratado

De Unitate Intellectus de Alberto Magno

Prof. MATTEO RASCHIETTI

1248

Fundação do Studium generale em Colônia

1250

Comentário ao Corpus aristotelicum. Disputa sobre o direito de lecionar na Universidade de Paris

1253-1254

Os mendicantes não aderem a uma greve na universidade e são expulsos

Contextualização histórica

1256

Viagem para para Anagni [1ª viagem na Itália, até 1257].

Alexandre IV pede ao dominicano de sustentar uma disputa sobre a tese de unicidade do intelecto

1263

Redação da disputa

1270

inserção da disputa na 2ª parte da sua Summa Theologiae

Elementos da Psicologia Aristotélica

2

ΠερὶΠερί ψυχής

ALMA

- forma do ser humano

- princípio do qual se originam todas as funções vitais o ser humano

1

vegetativa sensitiva intelectiva

“A alma é a primeira atualidade de um corpo natural que tem em potência vida” (De Anima II, 1, 412 a 27)

4

3

2 princípios fundamentais da sua Metafísica

a- toda coisa é em ato pela sua forma; b - todo ser, enquanto é, é uno

levam Aristóteles a excluir que sejam 3 almas diferentes.

CONHECIMENTO = passagem da potência ao ato

objeto real ------ forma impressa nos sentidos (imagem sensível)

5 sentidos -------- senso comum + imaginação (fantasia) ------ conhecimento

5

objeto do conhecimento intelectivo ------- CONCEITO UNIVERSAL

pode ser predicado expressa a essência da coisa além da contingência (E / T)

Para Aristóteles, acima da sensação está o INTELECTO, “a parte da alma pela qual a alma conhece e entende” (De Anima III, 4, 429 a 10)

Intelecto em Potência (apto a se tornar todas as coisas)

Intelecto Agente (apto a produzi-las todas)

SEPARADO - IMPASSÍVEL - NÃO-MISTURADO - ATO POR ESSÊNCIA

O intelecto agente é como a que torna as cores em potência, cores em ato

“O intelecto vem de fora e apenas ele é divino” (De generatione animalium, II, 3, 736 b 27)

Na alma, é a ESPÉCIE INTELIGÍVEL que faz passar o intelecto da potência ao ato

Espécie: eidos (aspecto) - species

Subdivisão lógica inferior ao GÊNERO, abaixo da qual há somente a multiplicação dos indivíduos: ESPÉCIE, portanto, é “homem”, “cavalo”, etc. Toda espécie é caracterizada por uma ou mais DIFERENÇAS ESPECÍFICAS, que as distinguem das outras espécies do mesmo gênero.

TOMÁS DE AQUINO distingue

species sensibilis species intelligibilis

IMAGENS DOS REPRESENTAÇÃO

SENTIDOS DA ESSÊNCIA

(CONCEITO)

A tradição medieval da psicologia aristotélica

1252:

o De Anima se torna um dos textos básicos do ensino na Faculdade de Artes

3 traduções:

1) do grego (Thiago de Veneza, sec. XII – translatius vetus)

2) do árabe (Miguel Escoto, 1225)

3) do grego (Guilherme de Moerbecke,

1267– translatius nova)

Comentário de AVERRÓIS

Problema:

inseriu a doutrina do conhecimento numa doutrina da alma de tipo físico.

O Intelecto possível é uma substância ÚNICA e SEPARADA, ligada ocasionalmente às almas humanas como um motor

a um móvel.

AVICENA

ALMA RACIONAL = substância independen-te do corpo. Ela é o verdadeiro sujeito das operações que exerce através das suas faculdades.

INTELECTO AGENTE: entidade ÚNICA e SEPARADA das almas humanas individuais

De unitate intellectus

De Homine

De natura et origine animae

De intellectu et intelligibili

De quindecim problematicus

Summa Theologiae (2ª pars)

Comentário ao De Anima

A doutrina da alma de Alberto Magno

A alma

Alberto

- substância - ato primeiro de um corpo

2 pontos complementares

em relação ao corpo em si mesma

FORMA do corpo e SUBSTÂNCIA completa independente dele.

A alma, para Alberto Magno

- única forma do corpo

- "todo potencial” (totum potentiae)

- sem múltiplas formas substanciais

- sem múltiplas almas distintas em ato

- substância imaterial

- motor em relação ao corpo

- piloto; composta pelo Intelecto e por tudo aquilo que

ele determina como forma última

O intelecto

“agere sequitur esse”

o modo de operar da alma deve ser compatível com sua natureza imortal

ATIVIDADE COGNITIVA:

atividade principal da alma sobre

O conhecimento parte da EXPERIÊNCIA:

INTELECTO POSSÍVEL ---- INTELECTO AGENTE ---- INTELECTO ADQUIRIDO (adeptus)

Incorruptível

define o ser humano na sua essência

não precisa dos sentidos

parte imortal da alma

Intelecto Agente:

extrair as formas inteligíveis dos fantasmas,

precisa da LUZ do Intelecto Divino do qual é imagem

“Cristianização de Avicena”

TEORIA DOS GRAUS DE ATUALIZAÇÃO DO INTELECTO POSSÍVEL

1º GRAU = potência absoluta

2º GRAU = Intellectus possibilis

3º GRAU = Intellectus adeptus (Intelecto adquirido).

Intellectus in habitu

Graus superiores:

Intelecto santificado

Intelecto assimilado

Intelecto Divino ou Divinizado

Processo Cognitivo para Alberto Magno

Progresso contínuo do ser humano:

  • atualização gradual do Intelecto possível
  • cada vez mais ele mesmo.

  • mais próximo de Deus
  • imagem de Deus na alma

  • destino: a assimilação a Deus

De unitate intellectus, Summa de creaturis,

Comentário ao De Anima,

De natura et origine animae De intellectu et intelligibili

conjunto de obras que tratam os problemas colocados pela psicologia aristotélica

De unitate intellectus

Gênese e Estrutura

- Data de composição: 1263/4

Argumento: a imortalidade pessoal do ser humano, negada pela tese da unicidade do intelecto

moral

Consequências no plano

escatológico

ESTRUTURA DO TEXTO:

1ª parte: 30 objeções em favor da unicidade do intelecto post mortem

2ª parte: 36 argumentos em favor da tese oposta

Solutio + respostas às objeções da 1ª parte

Introdução

"Junto àqueles que ensinam filosofia existe a dúvida se a alma é separada do corpo, e, se ela for separada, o que dela permanece e, concedendo ser o intelecto aquilo que permanece, qual a relação do intelecto que permanece após a separação de uma alma com o intelecto que permanece após a separação de outra alma, se por ventura é o mesmo dele ou diferente. É necessário apurar, por meio de razões e silogismos, o que cumpre julgar e sustentar. Por isso, qualquer coisa que diga nossa religião, deixemo-la agora totalmente de lado, aceitando exclusivamente as verdades recebidas pela demonstração através do silogismo".

- Abordagem exclusivamente filosófica.

- Conclusão: negação da imortalidade individual = inaceitável do ponto de vista filosófico.

- Alberto Magno se opõe a toda tradição peripatética, desde Alexandre de Afrodísia até Avicena, Averróis e Avempace.

- 11 argumentos são derivados de autores não latinos; os outros 19 são anônimos

3 PRINCIPAIS NÚCLEOS TEÓRICOS

separação, não-misturabilidade do intelecto com a matéria

(a) 2 princípios da filosofia aristotélica

princípio de individuação

Na natureza só a matéria corpórea é divisível.

Logo, o intelecto deve ser indivisível e único.

(b) Universalidade do intelecto

A espécie sensível abstraída da imagem sensível permanece assim

só se o intelecto que a recebe for também universal único.

c) Analogia entre o intelecto e a luz solar

Esta, sem deixar de ser única, espalha-se sobre todos os corpos

“Há um exemplo disso na luz do sol, que, uma na substância, é participada por

muitas realidades e nelas possui potências diferentes, mas em si permanece uma só” [14].

ESTRATÉGIA DE ALBERTO MAGNO

Mostrar que o Intelecto (mesmo separado da matéria) pertence ao ser humano, enquanto faculdade que flui da alma dele.

O Intelecto, embora imaterial, é individualizado como faculdade da alma

Argumentos Contrários

I) METAFÍSICOS:

se o Intelecto é a diferença específica do homem, então deve ser ATO, logo, múltiplo.

II) CONSECUTIO ANIMARUM:

3 faculdades da mesma alma

III) DOUTRINA ARISTOTÉLICA DA ORIGEM DA ALMA INTELECTIVA

“a alma do homem é [...] produzida da potência ao ato; pelo fato

de tudo aquilo que é produzido da potência ao ato ser enumerado segundo o número das realidades geradas, segue-se que a alma é enumerada segundo o número dos homens gerados” (24).

IV) ALMA COMO MOTOR DO CORPO

“é necessário que [a alma] mova pela sua união segundo o ser. Ora, tudo o que está unido a algo segundo o ser, é enumerado pelo número daquele. Então, novamente, segue-se que há tantos intelectos quantos são os homens” (23).

V) NOÇÕES METAFÍSICAS

“eles dizem que o intelecto é um só em todos, mas o compreender deste homem não é o compreender daquele e, enquanto eu compreendo, não é necessário que tu também compreendas” (26).

VI) ARGUMENTOS AD ABSURDUM

“se, como estes dizem, o intelecto só se une à alma pelo seu ato segundo através das formas da imaginação, segue-se que a alma do homem nada opera pelo intelecto [...] esta afirmação é tão desprezível que todo homem não deve prestar ouvido a ela, porque, então, ninguém cuidaria do próprio intelecto, a filosofia nada seria e tampouco a virtude intelectual” (30).

Solução

  • alma: parte intelectiva (alma racional)
  • substância
  • emanam potências, algumas separadas , outras sendo faculdades operantes no corpo.
  • semelhança com a causa primeira
  • faculdades no corpo: estão nela enquanto é alma,
  • está no horizonte da eternidade e do tempo”.

enquanto emanada da causa primeira

em si mesma

A alma pode ser considerada

INTELECTO AGENTE

ALMA

INTELECTO POSSÍVEL

"Como, porém

em nenhum modo [a alma] é em potência por aquilo que depende da causa primeira, mas é ato puro, o intelecto que age universalmente está presente nela. E sendo que ela é em potência por si mesma, como as outras substâncias intelectuais, nela está presente o intelecto possível; com efeito, toda natureza intelectual considerada em si mesma é em potência e, semelhantemente, todo causado em si é em potência; mas, enquanto deriva da causa primeira, é em ato e recebe seu ser por necessidade.”

Respostas a 2 núcleos problemáticos da primeira parte

PROBLEMA DA

INDIVIDUAÇÃO

DO INTELECTO

“Donde, como o sol é algo determinado no gênero dos corpos, mas a potência dele, na medida em que é região das coisas visíveis pela luz, não é algo determinado nem individuado, assim se deve dizer que o intelecto no gênero da substância é algo individuado, mas a potência da luz intelectual, na medida em que é região das espécies intelectuais, não é determinada e nem individuada”.

“um intelecto penetra outro com a luz, como um astro penetra outro com sua luz, e assim nada proíbe que um único universal esteja em muitos intelectos como em uma só região e um só lugar dos inteligíveis”

COMPATIBILIDADE ENTRE A NATUREZA INDIVIDUAL DO INTELECTO E O UNIVERSAL

O De Unitate de Alberto Magno e o De unitate contra averroístas de Tomás de Aquino

Tomás de Aquino

“Já há algum tempo impregnou-se em muitos um erro, a respeito do intelecto, originado do que disse Averróis, que se esforça por asseverar que o intelecto, que Aristóteles chama de ‘possível’ e ele próprio, com um nome inadequado, ‘material’, é certa substância separada do corpo, de acordo com o ser, e não se une a ele de modo nenhum como forma; mais ainda, que esse intelecto possível é um só para todos os homens, contra o que já escrevemos muito anteriormente” [1].

TESE PRINCIPAL DE TOMÁS:

reabilitar Aristóteles distinguindo a doutrina originária das suas interpretações “perigosas” para persuadir os teólogos mais conservadores da sua ortodoxia.

Estratégia argumentativa do Aquinate:

estritamente filosófica e até filológica.

O alvo dele é Síger de Brabante, um que se professa cristão e que “duvida se isso é contra a fé, [...] e insinua que ele mesmo é alheio a essa religião” [118]

Condena a doutrina da dupla verdade:

“pretendemos mostrar que a

referida posição não é menos

contra os princípios da filosofia

do que contra os testemunhos

da fé” [2

.

As condenações de Aristóteles

As primeiras condenações

A recepção das obras de Aristóteles foi marcada por tentativas de barrar o acesso dos mestres de Artes e de Teologia ao novo saber de matriz grega e árabe.

NOVIDADES PERIGOSAS: Filosofia natural / Metafísica

1ª PROIBIÇÃO: 1210 – Universidade de Paris

1215 – Roberto de Courçon, legado pontifício, reforça a proibição

1228-31 – abertura cautelosa de Gregório IX

1250 – obrigação de ler as obras aristotélicas em Paris e Oxford

As condenações de 1270 e 1277

Estêvão Tempier, bispo de Paris

PREMISSA AO ELENCO DAS TESES CONDENADAS

10/12/1270 – 13 PROPOSIÇÕES

TEMAS PRINCIPAIS: a unicidade do intelecto, o determinismo astral, a eternidade do mundo, a concepção intelectualista da vontade humana, o conhecimento divino, negação da providência.

07/03/1277 – 219 PROPOSIÇÕES

Pedido do papa João XXI

TEMAS PRINCIPAIS: as mesmas teses de 1270, junto com a natureza da filosofia, a cognoscibilidade de Deus e sua livre vontade, o problema da necessidade e contingência, a felicidade intelectual e sua relação com a ética.

“[Seus autores] afirmam que suas doutrinas são verdadeiras de acordo com a filosofia de Aristóteles, mas não de acordo com a fé católica, como se existissem duas verdades opostas, ou como se nas palavras dos filósofos pagãos se pudesse encontrar uma verdade contrária àquela da Sagrada Escritura”

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