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Soltaram os pianos na planicície deserta
Onde as sombras dos pássaros vêm beber.
Eu sou o pastor pianista,
Vejo ao longe com alegria meus pianos
Recortarem os vultos monumentais
Contra a lua.
Acompanhado pelas rosas migradoras
Apascento os pianos que gritam
E transmitem o antigo clamor do homem
Que reclamando a contemplação
Sonha e provoca a harmonia,
Trabalha mesmo à força,
E pelo vento nas folhagens,
Pelos planetas, pelo andar das mulheres,
Pelo amor e seus contrastes,
Comunica-se com os deuses.
NÃO CONVENCIONAL
Nascido em 13 de maio de 1901, em Juiz de Fora, Minas Gerais, além de prosador e poeta surrealista, Murilo Mendes atuou também como telegrafista, auxiliar de contabilidade, notário, inspetor de ensino e escrivão da 4º Vara da Família do DF. Percorreu diversos países da Europa, divulgando em conferências a cultura brasileira.
Surgiu na França após a Primeira Guerra Mundial, através do escritor francês André Breton. Os textos e poesias deste movimento são marcados pela livre associação de ideias, frases montadas com palavras recortadas de revistas e jornais e muitas imagens e ideias do inconsciente.
Murilo utiliza a linguagem coloquial e os neologismos para compor seus textos, escreveu poemas, antologias e algumas obras em prosa.
da
LINGUAGEM
Pastor que toca piano x Pastor que apascenta pianos
VERSO 1
na planície deserta"
"Logicamente aberrante mas
poeticamente viável"
"Onde /as sombras d/os
pássaros vêm beber"
"Eu sou o pastor pianista,
Vejo ao longe com alegria meus pianos
Recortarem os vultos monumentais
Contra a lua."
versos 1 e 2
"EU SOU O PASTOR PIANISTA"
Decisivo para a ambiguidade do título
"Vejo ao longe com alegria meus pianos
Recortarem os vultos monumentais
Contra a lua."
4-5-6: Completam o sentido
rosas migradoras
"Acompanhado pelas
Apascento os pianos que gritam
E transmitem o antigo clamor do homem"
ESQUEMAS
Coerência Assimetria
Gregorio de Matos
"Como cantas, se é flor de Alexandria
Como cheiras, se és pássaro de arminho?"
- A Um Passarinho Cantando
Murilo Mendes
"Lembro-me de uma tarde
Em que os pianos furiosos galopavam no ar"
- Lembro -me
Murilo Mendes
'Minhas ideias abstratas
De tanto as tocar, tornaram-se concretas:
São rosas familiares
Que o tempo traz ao alcance da mão,
Rosas que assistem à inauguração de eras novas
No meu pensamento,
No pensamento do mundo em mim e nos outros;
De eras novas, mas ainda assim
Que o tempo conheceu, conhece e conhecerá.
Rosas! Rosas!
Quem me dera que houvesse
Rosas abstratas para mim."
- Ideias rosas
Rosas migradoras
Murilo Mendes
rosas migradoras
"Há uma convergência de presságios
Nos jardins cobertos de
E nos berços onde dorme crianças com fuzis"
- História
"Os pés do deserto me alcançam
Trazem recados das
-Poema hostil
rosas migradoras"
"Que reclamando a contemplação
Sonha e provoca a harmonia,
Trabalha mesmo à força,"
a contemplação, a arte e o trabalho
"E pelo vento nas folhagens,
Pelos planetas, pelo andar das mulheres,
Pelo amor e seus contrastes,
Comunica-se com os deuses".
CONTRADIÇÕES
poema
Sujeito: Pastor Pianista
Sujeito: Homem
POR FIM...
dos pianos e a luta do
homem para se exprimir
"Murilo Mendes
convive com as ficções, com os sonhos, com as imagens, com as "correspondências", com as alucinações subjetivas, com os mitos, que povoam seu espírito e que dão à sua obra uma auréola de irrealidade, embora sejam na verdade essenciais para que ele tome plenamente
posse do real". - ESCOREL, Lauro, Nota 5.
Livro, capítulo e grupo
CANDIDO, Antonio, Na Sala de Aula - Caderno de Análise Literária, Cap.6: Pastor Pianista/Pianista Pastor. Grupo:
Ana Paula, Isabella Figueiredo,
Karen Vanessa.