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A lógica dos jogos de 2 níveis
Robert Putnam
77 anos, cientista político norte-americano,
professor em Harvard.
Desenvolveu o termo “capital social” para o funcionamento das democracias.
“O capital social refere-se a aspectos da organização social, tais como redes, normas e confiança que facilita coordenação e cooperação para benefícios mútuos. Capital social aumenta os benefícios de investimento em capital físico e capital humano”.
A lógica dos jogos de 2 níveis
Quanto e como questões domésticas influenciam na diplomacia?
O objeto de estudo de Putnam é Cúpula de Bonn (Alemanha), 1978.
Discussão de um programa de recuperação global.
Tal programa tinha impactos internos e isso causou controvérsia.
- Organização para Cooperação Econômica e Desenvolvimento, a OCDE, defendeu programa de recuperação da economia global.
- Ideia tinha apoio inicial do governo Jimmy Carter (EUA) e dos países mais fracos. Hoje a OCDE conta com 36 países membros.
- Em princípio, líderes da Alemanha e do Japão se posicionaram contra as medidas. Argumentavam que países "prudentes" não deveriam “salvar países esbanjadores”.
- Especialmente a Alemanha também criticava a política de consumo de petróleo dos EUA e falta de zelo com o dólar baixo.
- Nos EUA, também havia setores contrários.
- Publicamente demonstravam-se
problemas.
- Privadamente atores tentavam se
entender.
- Acordo combinou pressões domésticas e internacionais.
Resultado: genuína coordenação política internacional. Todos ganharam.
Ir além da observação dos fatores domésticos sobre assuntos internacionais.
Buscar teorias que integrem ambas esferas (doméstica x internacional).
Uma metáfora para as interações doméstico-internacionais
- Tabuleiro no nível nacional: os grupos domésticos perseguem seus interesses pressionando o governo a adotar políticas a eles favoráveis.
- Tabuleiro no nível internacional: os governos nacionais buscam maximizar suas próprias habilidades de satisfazer as pressões domésticas, enquanto minimizam as consequências adversas das evoluções externas.
- Os dois jogos precisam ser considerados pelos tomadores de decisão, pois seus países permanecem interdependentes e soberanos.
- Cada líder político nacional está presente em ambos os tabuleiros.
- Ações que são racionais para um jogador em determinado tabuleiro podem ser imprudentes para esse mesmo jogador em outro tabuleiro.
- Existem fortes incentivos para a coerência entre esses jogos.
- Desafio: elaborar soluções analíticas a partir de jogos de dois níveis.
A importância dos "win-sets"
- Cenário que pode ser aplicado a qualquer jogo de dois níveis: negociadores que representam duas organizações encontram-se para buscar um acordo, sujeitos à limitação de que qualquer acordo provisório precisa ser ratificado pelas respectivas organizações.
- Cada lado representado por um único líder ou “negociador-chefe”, que não tem preferências políticas independentes e busca simplesmente encontrar um entendimento atrativo para suas bases.
- Divisão analítica do processo em dois estágios:
1. a barganha entre os negociadores que leva a um acordo provisório – chamemos este estágio de nível I;
2. as discussões em separado entre os grupos domésticos de apoio sobre ratificar ou não o acordo – chamemos este estágio de nível II.
- A “ratificação” pode envolver um processo formal de votação no nível II, como:
- no Brasil, a celebração de tratados, convenções e atos internacionais compete ao Presidente da República, e a ratificação compete exclusivamente ao Congresso Nacional (arts. 84, VIII, e 49, I, da Constituição Federal).
- Não é essencial pensar na ratificação como uma função parlamentar; os atores do nível II podem representar agências burocráticas, grupos de interesse, classes sociais ou mesmo a opinião pública.
- Única restrição formal no processo de ratificação: um acordo preliminar no nível I não pode ser emendado no nível II sem reabrir as negociações no nível I.
A ratificação final só pode ser votada a favor ou contra.
Modificação conta como rejeição, exceto se for aprovada por todas as outras partes do acordo.
- O “conjunto de vitórias” [win-set] para determinada base de apoio do nível II é: o conjunto de todos os acordos possíveis do nível I que seriam vitoriosos quando colocados em votação.
Maiores conjuntos de vitórias tornam os acordos no nível I mais prováveis.
Qualquer acordo bem sucedido precisa encaixar-se nos conjuntos de vitórias do nível II de cada uma das partes do acordo.
Defecção voluntária e defecção involuntária
Defecção voluntária: recusa dada por um ator egoísta racional na ausência de contratos obrigatórios. Por exemplo: o problema analisado no dilema do prisioneiro.
Defecção involuntária: reflete o comportamento de um agente que é incapaz de cumprir uma promessa devido ao fracasso de uma ratificação.
- A credibilidade de um compromisso oficial em jogos de dois níveis é baixa porque o negociador é incapaz de garantir a ratificação, mesmo que os custos reputacionais da rejeição sejam altos.
- A credibilidade (e, portanto, a capacidade de obter acordos) no nível I é acentuada pela capacidade comprovada do negociador em “executar” no nível II.
- Quanto menores os conjuntos de vitórias, maior é o risco de defecção involuntária.
- Os tamanhos relativos dos respectivos conjuntos de vitórias do nível II afetarão a distribuição de ganhos conjuntos das barganhas internacionais.
- Implicações ambíguas [“sweet-and-sour”] do tamanho do conjunto de vitórias – jogo de soma zero simples entre X e Y.
XM = resultado máximo para X
YM = resultado máximo para Y
X1 = resultado mínimo de X que poderia ser ratificado
Y1 = resultado mínimo de Y que poderia ser ratificado
Qualquer acordo na distância entre X1 e Y1 poderia ser ratificado por ambas as partes.
Se o conjunto de vitórias de Y for reduzido para Y2, o leque de acordos seria reduzido em favor de Y.
Entretanto, se Y reduzisse ainda mais seu conjunto de vitórias para além de Y3, os negociadores repentinamente se veriam em um impasse, pois os conjuntos de vitória não seriam mais sobrepostos.
Quais circunstâncias afetam o tamanho do conjunto de vitórias?
O tamanho do conjunto de vitórias depende da distribuição de poder, das preferências e das coalizões possíveis entre os grupos domésticos do nível II
Princípios que determinam o tamanho do conjunto de vitórias:
- Quanto menor o custo do “não-acordo” para os grupos domésticos, menor será o conjunto de vitórias
Custo do "não-acordo": preço da desistência, rompimento, custo esperado da guerra
- Alguns grupos domésticos podem ter custos baixos com não-acordos, ao passo que outros podem ter custos mais altos.
- O “não-acordo” geralmente representa o status quo, embora em alguns casos o não-acordo possa piorar a situação
O tamanho do conjunto de vitórias depende da distribuição de poder, das preferências e das coalizões possíveis entre os grupos domésticos do nível II
FORÇAS ISOLACIONISTAS X FORÇAS INTERNACIONALISTAS
- O tamanho do conjunto de vitórias (e, daí, o espaço de negociação do negociador do nível I) depende do tamanho relativo das forças “isolacionistas” (que se opõem à cooperação internacional em geral) e das forças “internacionalistas” (que oferecem “apoio incondicional”).
- O apoio incondicional a acordos internacionais é geralmente maior em países pequenos, mais dependentes e de economias mais abertas se comparados a países mais autossuficientes.
- Os estados mais autossuficientes que possuem conjuntos de vitórias menores fazem menos acordos internacionais e quando os fazem negociam mais duramente.
- Em alguns casos, a avaliação do não-acordo pode ser o único desacordo importante entre os grupos do nível II porque seus interesses são relativamente homogêneos.
- Quanto mais o negociador conseguir ganhar no nível I maiores serão suas chances de conseguir a ratificação.
- Casos em que qualquer acordo do nível I atinge desigualmente cada um desses grupos envolvidos.
- Ex.: Tratado de Versalhes: Em 1919 alguns grupos domésticos opuseram-se ao Tratado de Versalhes porque o acharam muito severo para as potências derrotadas e outros porque o acharam muito brando.
O tamanho do conjunto de vitórias depende da distribuição de poder, das preferências e das coalizões possíveis entre os grupos domésticos do nível II
Outros fatores que influenciam no tamanho do conjunto de vitórias:
- Quando os custos e/ou os benefícios de um acordo proposto são relativamente concentrados, é razoável esperar que grupos domésticos cujos interesses são mais afetados buscarão exercer uma influência especial no processo de ratificação.
- A composição de grupos domésticos ativos no nível II também varia com o nível de politização do assunto. A politização muitas vezes ativa grupos que estão menos preocupados com os custos do "não-acordo", reduzindo assim o tamanho efetivo do conjunto de vitórias.
Importância do sigilo para negociações exitosas
- Quantidade de temas envolvidos: como regra geral, o grupo com maior interesse em determinada questão provavelmente terá a posição mais extremada quando ela for debatida.
Tipo de vínculo entre questões do nível I que altera os resultados possíveis no nível II
- Não altera as preferências de grupos domésticos, mas cria uma opção política (como um crescimento maior nas exportações) que estava anteriormente além do controle doméstico.
Ex.: maioria de grupos domésticos no nível II opõe-se a determinada política (a desregulamentação do preço do petróleo), porém alguns membros dessa maioria estariam inclinados a mudar seus votos em troca de benefícios (empregos nas indústrias exportadoras).
Ex.: na Rodada de Tóquio os países usaram a negociação internacional para promover reformas internas em situações nas quais as pressões dos grupos domésticos de outra forma impediriam a ação, caso não houvesse a pressão (e os benefícios das barganhas) que um parceiro estrangeiro poderia fornecer.
- A interdependência econômica multiplica as oportunidades de alterarem-se as coalizões domésticas (e, daí, os resultados das políticas) ao expandir o conjunto de alternativas viáveis – com efeito, ao criar entrelaçamentos políticos para além das fronteiras nacionais.
O tamanho do conjunto de vitórias depende das instituições políticas do nível II
PROCEDIMENTOS DE RATIFICAÇÃO
Necessidade de maioria qualificada para ratificação de um acordo.
Poder de veto.
O poder efetivo de veto de um pequeno grupo faz com que muitos acordos sejam rejeitados.
Regras de ratificação rígidas.
Aumentam o poder de barganha, mas reduzem o escopo da cooperação internacional.
Práticas de ratificação não formalizadas.
Propensão japonesa de buscar o consenso doméstico mais amplo possível.
O tamanho do conjunto de vitórias depende das instituições políticas do nível II
PRÁTICAS POLÍTICAS QUE AFETAM O TAMANHO DO CONJUNTO DE VITÓRIAS: FORÇA X AUTONOMIA ESTADO
Uma forte disciplina no partido do governo aumenta o conjunto de vitórias ao ampliar o alcance dos acordos pelos quais o negociador do nível I pode esperar apoio.
Enfraquecimento da disciplina partidária nas maiores nações ocidentais reduz o escopo para a cooperação internacional.
Quanto maior for a autonomia dos tomadores centrais de decisões em relação aos grupos domésticos do nível II, maior será seu conjunto de vitórias e, assim, maiores serão as chances de alcançar-se um acordo internacional.
Quanto mais forte for a autonomia de um Estado em relação às pressões domésticas, mais fraca é sua posição relativa ao barganhar internacionalmente.
Ex.: diplomatas que representam uma ditadura fortificada são menos capazes que representantes de uma democracia de argumentar que os grupos domésticos impedem a realização de um acordo desvantajoso
O tamanho do conjunto de vitórias depende das estratégias dos negociadores do nível I
- Cada negociador do nível I tem interesse de maximizar o conjunto de vitórias do outro negociador, mas em relação ao seu próprio conjunto de vitórias suas motivações são variadas.
- Quanto maior for seu conjunto de vitórias, mais facilmente ele conclui um acordo, mas também mais fraca é sua posição de barganha em frente a outro negociador.
COMPENSAÇÕES PARALELAS:
- Em um jogo de dois níveis as compensações paralelas podem vir de fontes domésticas sem nenhuma relação com o tema ou podem-se receber como parte da negociação internacional.
Ex.: O governo Carter fez diversas ofertas persuasivas (como projetos de obras públicas) com o objetivo de convencer senadores hesitantes a ratificar o Tratado do Panamá.
REPUTAÇÃO DO NEGOCIADOR-CHEFE
- Um negociador-chefe cuja reputação política doméstica seja alta pode conseguir mais facilmente a ratificação de suas iniciativas externas.
Análise de política interna
- Os negociadores do nível I são freqüentemente mal-informados a respeito da política do nível II, particularmente sobre o lado da oposição.
- Geralmente os governos não analisam bem a política interna dos demais países durante as crises.
- A incerteza sobre o tamanho do conjunto de vitórias pode ser tanto um instrumento de barganha quanto um obstáculo para negociações de dois níveis.
A incerteza sobre o conjunto de vitórias do oponente aumenta a preocupação do negociador com o risco de defecção involuntária.
Um negociador maximizador de utilidade precisa convencer seu oponente de que seu próprio conjunto de vitórias é “incomum”.
- Em jogos de dois níveis, toda negociação envolve “a troca controlada de informações parciais”.
Táticas nos jogos de 2 níveis
Formalmente, a Teoria dos Jogos exige estruturação prévia das questões e dos payoffs envolvidos.
Na prática, todavia, há constantes tentativas de reestruturação do jogo e alteração das percepções acerca dos custos do não-acordo e dos benefícios dos acordos propostos.
Nas interações doméstico-internacionais, em que são comuns os jogos de dois níveis, os governos buscam expandir os conjuntos de vitórias uns dos outros.
A pressão internacional altera o equilíbrio doméstico, influenciando as negociações.
Pode ser positiva e facilitar o acordo (ex: Cúpula de Bonn de 1978).
Pode ser negativa e causar reação doméstica adversa.
Teoria da Escolha Racional: a reverberação é problemática, pois implica interconexão entre as funções de utilidade de atores independentes, ainda que por meio de diferentes níveis do jogo.
1ª) ofender estrangeiros pode ser custoso a longo prazo (“to get along, go along”);
2ª) a incerteza que permeia as questões internacionais faz com que as mensagens do exterior mudem ideias, movam indecisos e encorajem a minoria doméstica.
O fenômeno da reverberação (juntamente com a conexão sinérgica de questões) previne o uso de um atalho atraente para a modelagem de jogos dois níveis.
É a única conexão formal entre o nível I e o nível II.
Não é realista supor que o negociador-chefe age meramente como um honesto intermediário, sem perspectivas políticas independentes.
1. fortalecer sua posição no jogo do nível II por meio do aumento de seus recursos políticos ou por meio da minimização das perdas potenciais;
2. mudar o equilíbrio de poder no nível II em favor de políticas domésticas que prefere por motivos exógenos;
3. perseguir sua própria concepção do interesse nacional no contexto internacional.
Prioriza seu cálculo doméstico, já que seu emprego depende da sua posição no nível II.
Combinação: menor investimento de capital político próprio para aprovação; maior retorno político possível com a ratificação.
Poder de veto sobre possíveis acordos.
Coalizão doméstica existente de apoio ao líder. Acordo que ameace essa coalização implica relutância do negociador-chefe em endossá-la.
CARACTERÍSTICAS da relação entre diplomacia e política doméstica:
− distinção entre as defecções voluntária e involuntária dos acordos internacionais;
− o contraste entre questões nas quais os interesses domésticos são homogêneos e questões nas quais os interesses domésticos são mais heterogêneos, de modo que as divisões domésticas possam na verdade favorecer a cooperação internacional;
− a possibilidade de conexão sinérgica entre questões em que movimentos estratégicos em um tabuleiro facilitam coalizões inesperadas no outro tabuleiro;
− o fato paradoxal de que arranjos institucionais que fortalecem os tomadores de decisão domesticamente podem enfraquecer sua posição internacional de barganha e vice-versa;
− a influência dos tratados internacionais, das ofertas e das compensações paralelas sobre os planos domésticos;
− o uso estratégico da incerteza sobre a política doméstica e a utilidade especial dos “conjuntos de vitórias incomuns”;
− a potencial reverberação das pressões internacionais na arena doméstica; e
− a divergência de interesses entre o líder nacional e aqueles em cujo benefício ele está negociando e, em particular, as implicações internacionais dos seus investimentos fixos na política doméstica.
TEORIA DOS JOGOS EM CIÊNCIA POLÍTICA
Professor: João Luiz Pereira Marciano
Diplomacia e política doméstica: a lógica dos jogos de dois níveis
Robert Putnam
Adriano Ceolin
Claudia Torres
Denise Rocha
Lília Fernandes