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Transcript

Poemas Negros

Jorge Lima

Introdução

Sobre o autor e influências

A polifonia em Jorge de Lima

A questão cultural

Vídeo 1

Sobre como o conjuntos de poemas extrapola a herança que tínhamos, até então, de uma temática africana voltada para a questão da exploração.

Cultura africana no Brasil --> Candomblé e Umbanda.

Vídeo 2

- Poucos leitores de Jorge de Lima;

- Não protagoniza semana da Arte Moderna, mas, assim como Oswald de Andrade, Jorge de Lima busca a construção de uma brasilidade;

- Saída do óbvio.

Matrizes religiosas

Umbanda e Candomblé

http://www.paiogun.com/orixas.htm

Os textos

Alguns dos textos

https://professordanillo.files.wordpress.com/2016/06/poemas-jorge-de-lima.pdf

Democracia

Quando ele vem

Rei é Oxalá, Rainha é Iemanjá

Meus olhos

Cantigas

História

Mulher proletária

Sonetos

Poema à bem-amada

Retreta do vinte

Retreta do vinte

O cabo mulato balança a batuta,

meneia a cabeça, acorda com a vista

os bombos, as caixas, os baixos e as trompas.

(No centro da Praça o busto de D. Pedro escuta.) —

Batuta pra esquerda: relincham clarins,

requintas, tintins e as vozes meninas da banda do 20.

Batuta à direita: de novo os trombones

e as trompas soluçam. E os bombos e as caixas: ban-ban!

Vêm logo operários, meninas, cafuzas,

mulatos, portugas, vem tudo pra ali.

Vem tudo, parecem formigas de asas

rodando, rodando em torno da luz.

Nos bancos da Praça conversas acesas,

apertos, beijocas, talvezes.

D. Pedro II espia do alto.

(As barbas tão alvas

tão alvas nem sei!)

E os pares passeiam,

parece que dançam,

que dançam ciranda,

em torno do Rei.

Meus olhos

Nossa Senhora, minha madrinha,

tu vês as coisas verdes, não é?

Meus olhos pretos, coitados deles!

Teus olhos verdes, felizes deles,

minha madrinha, Nossa Senhora da Conceição!

Nossa Senhora, dá-me teus olhos

para eu ver com eles meus pobres olhos.

Coitados deles, minha madrinha,

só vêem as coisas como elas são.

Nossa Senhora, minha madrinha

pinta meus olhos, que eu quero ver

verdes os dias que inda virão.

Nossa Senhora, minha madrinha,

tu vês as coisas verdes, não é?

Teus olhos verdes, felizes deles!

Meus olhos pretos, cor de carvão!

Nossa Senhora, minha madrinha,

tu vês meus olhos como eles são?

Cantigas

As cantigas lavam a roupa das lavadeiras.

As cantigas são tão bonitas,

que as lavadeiras ficam tão tristes, tão pensativas!

As cantigas tangem os bois dos boiadeiros! —

Os bois são morosos, a carga é tão grande!

O caminho é tão comprido que não tem fim.

As cantigas são leves...

E as cantigas levam os bois,

batem a roupa

das lavadeiras.

As almas negras pesam tanto, são

tão sujas como a roupa, tão pesadas

como os bois...

As cantigas são tão boas...

Lavam as almas dos pecadores!

Levam as almas dos pecadores!

http://ganhadeirasdeitapua.blogspot.com.br/p/letras.html

Breu, Xênia França

História

Era princesa.

Um libata a adquiriu por um caco de espelho.

Veio encangada para o litoral,

arrastada pelos comboieiros.

Peça muito boa: não faltava um dente

e era mais bonita que qualquer inglesa.

No tombadilho o capitão deflorou-a.

Em nagô elevou a voz para Oxalá.

Pôs-se a coçar-se porque ele não ouviu.

Navio guerreiro? não, navio tumbeiro.

Depois foi ferrada com uma âncora nas ancas,

depois foi possuída pelos marinheiros,

depois passou pela alfândega,

depois saiu do Valongo,

entrou no amor do feitor,

apaixonou o Sinhô,

enciumou a Sinhá,

apanhou, apanhou, apanhou,

Fugiu para o mato.

Capitão do campo a levou.

Pegou-se com os orixás:

fez bobó de inhame

para Sinhô comer,

fez aluá para ele beber,

fez mandinga para o Sinhô a amar.

A Sinhá mandou arrebentar-lhe os dentes:

Fute, Cafute, Pé-de-pato, Não-sei-que-diga.

avança na branca e me vinga.

Exu escangalha ela, amofina ela,

amuxila ela que eu não tenho defesa de homem,

sou só uma mulher perdida neste mundão.

Neste mundão.

Louvado seja Oxalá.

Para sempre seja louvado.

Democracia

Punhos de redes embalaram o meu canto

para adoçar o meu país, ó Whitman.

Jenipapo coloriu o meu corpo contra os maus-olhados,

catecismo me ensinou a abraçar os hóspedes,

carumã me alimentou quando eu era criança,

Mãe-negra me contou histórias de bicho,

moleque me ensinou safadezas,

massoca, tapioca, pipoca, tudo comi,

bebi cachaça com caju para limpar-me,

tive maleita, catapora e ínguas,

bicho-de-pé, saudade, poesia;

fiquei aluado, mal-assombrado, tocando maracá,

dizendo coisas, brincando com as crioulas,

vendo espíritos, abusões, mães-d’água,

conversando com os malucos, conversando sozinho,

emprenhando tudo que encontrava,

abraçando as cobras pelos matos,

me misturando, me sumindo, me acabando,

para salvar a minha alma benzida

e meu corpo pintado de urucu,

tatuado de cruzes, de corações, de mãos-ligadas,

de nomes de amor em todas as línguas de branco, de mouro ou de pagão.

maleita - malária

ficar aluado - ficar distraído; ter acessos de loucura

Rei é Oxalá, Rainha é Iemanjá

Rei é Oxalá que nasceu sem se criar.

Rainha é Iemanjá que pariu Oxalá sem se manchar.

Grande santo é Ogum em seu cavalo encantado.

Eu cumba vos dou curau. Dai-me licença angana.

Porque a vós respeito,

e a vós peço vingança

contra os demais aleguás e capiangos brancos.

Agô!

que nos escravizam, que nos exploram,

a nós operários africanos,

servos do mundo,

servos dos outros servos.

Oxalá! Iemanjá! Ogum!

Há mais de dois mil anos o meu grito nasceu!

Nhem-nhem-nhem

Nhem-nhem-nhem-xorodô

Nhem-nhem-nhem-xorodô

É o mar,

é o mar

Fé-fé xorodô!

Quando ele vem

olubó - pirão

caruru

oguedê de banana

Quando ele vem,

vem zunindo como o vento,

como mangangá, como capeta,

como bango-balango, como marimbondo. Donde que é que ele vem?

Vem de Oxalá, vem de Oxalá,

vem do oco do mundo,

vem do assopro de Oxalá,

vem do oco do mundo.

Quer é comer.

Quer é caruru de peixe,

quer é efó de inhame,

quer é oguedé de banana,

quer é olubó de macaxeira,

quer é pimenta malagueta.

Quando ele chega, tudo fica banzando à toa, esbodegado, enquizilado, enguiçado, enfezado. Quando ele entra,

dá vontade na gente de embrenhar-se no mato, de esparramar-se no chão,

de encalombar o rosto com as mãos,

de amunhecar no cansanção,

de esbanguelar os dentes nas pedras,

virar pé-de-vento,

sumir no assopro de Oxalá.

E dentro do assopro de Oxalá

virar cochicho nos ouvidos dela,

xodozar todo o santo dia,

catar cafunés invisíveis,

rolar dentro das suas anáguas, bambeando o corpo dela,

babatando sem rumo,

amuxilado,

acuado diante das suas mungangas, engambelado, tatambeado, fumado.

Mulher proletária

Mulher proletária — única fábrica

que o operário tem, (fábrica de filhos)

tu

na tua superprodução de máquina humana

forneces anjos para o Senhor Jesus,

forneces braços para o senhor burguês.

Mulher proletária,

o operário, teu proprietário

há de ver, há de ver:

a tua produção,

a tua superprodução,

ao contrário das máquinas burguesas

salvar teu proprietário.

Sonetos

Este poema de amor não é lamento

nem tristeza distante, nem saudade,

nem queixume traído nem o lento

perpassar da paixão ou pranto que há-de

transformar-se em dorido pensamento,

em tortura querida ou em piedade

ou simplesmente em mito, doce invento,

e exaltada visã da adversidade.

É a memória ondulante da mais pura

e doce face (intérmina e tranqüila)

da eterna bem-amada que eu procuro;

mas tão real, tão presente criatura

que é preciso não vê-la nem possuí-Ia

mas procurá-Ia nesse vale obscuro.

Poema à bem-amada

Amada, não penses,

escutemos a chuva que o inverno chegou.

Sejamos as árvores que Deus semeou

sem nunca O ouvir, sem nunca O olhar

serenos, morramos sem nos separar.

Renunciemos, amada, os vãos pensamentos,

cumpramos apenas a lei do Senhor

sem nunca O ouvir, sem nunca O tocar,

sem nunca duvidar, duvidar, duvidar.

Soframos, amada, sem nos lamentar.

Sejamos as árvores que Deus esqueceu, .

que o vento abalou e o raio abateu.

Amada! Amada!

Bem-aventurado quem já morreu. Escutemos a chuva,

que a chuva é de Deus!

UNICAMP

Na “Nota preliminar” escrita para a primeira edição do livro Poemas negros, de Jorge de Lima, o antropólogo Gilberto Freyre afirma que, graças à “interpretação de culturas, entre nós tão livre”, e graças ao “cruzamento de raças”, “o Brasil vai-se adoçando numa das comunidades mais genuinamente democráticas e cristãs do nosso tempo”. Com base no poema “Democracia”, responda às questões que se seguem.

DEMOCRACIA

Punhos de rede embalaram o meu canto

para adoçar o meu país, ó Whitman.

Jenipapo coloriu o meu corpo contra os maus olhados,

catecismo me ensinou a abraçar os hóspedes,

carumã me alimentou quando eu era criança,

Mãe-negra me contou histórias de bicho,

moleque me ensinou safadezas,

massoca, tapioca, pipoca, tudo comi,

bebi cachaça com caju para limpar-me,

tive maleita, catapora e ínguas,

bicho-de-pé, saudade, poesia;

fiquei aluado, mal-assombrado, tocando maracá,

dizendo coisas, brincando com as crioulas,

vendo espíritos, abusões, mães-d’água,

conversando com os malucos, conversando sozinho,

emprenhando tudo que encontrava,

abraçando as cobras pelos matos,

me misturando, me sumindo, me acabando,

para salvar a minha alma benzida

e meu corpo pintado de urucu,

tatuado de cruzes, de corações, de mãos-ligadas,

de nomes de amor em todas as línguas de branco,

[de mouro ou de pagão.

(Jorge de Lima, Poesias completas, v. I. Rio de Janeiro/Brasília: J. Aguilar/INL, 1974, p.160, 164-165.)

a) A ideia de “adoçamento” social está presente tanto no poema de Jorge de Lima quanto no texto de Gilberto Freyre. Aponte dois episódios da formação do poeta, referidos no poema, que exemplificam essa interpretação. Justifique sua escolha.

A

a) Segundo o texto de Gilberto Freyre, “adoçamento” está relacionado ao “cruzamento de raças” e à “interpretação de culturas [...] tão livre”, ideia retirada do início do poema: “Punhos de rede embalaram o meu canto / para adoçar o meu país, ó Whitman”. Pode-se observar essa mistura na formação do poema, como em: “catecismo me ensinou a abraçar os hóspedes”, “carumã me alimentou quando eu era criança” e “bebi cachaça com caju para limpar-me”. Trata-se de passagens que apontam as culturas branca, indígena e negra, respectivamente, fundamentais para a visão do poeta.

b) Considerando elementos da composição do poema, explique de que maneira a ideia de “democracia”, presente no título, manifesta-se no texto.

B

A ideia de democracia manifesta-se no texto por uma concepção de “sincretismo cultural”, que decorre do cruzamento de raças. Desse modo, a composição do poema, em suas escolhas vocabulares, contempla essa mistura linguística. Assim, trata-se muito mais de uma democracia cultural do que predominantemente política, como se observa nos últimos cinco versos do excerto.

C

“Sapo não pula por boniteza, mas porém por percisão.”

(“Provérbio capiau” citado em epígrafe no conto “A hora e a vez de Augusto Matraga”, em João Guimarães Rosa, Sagarana. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2015, p.287.)

Elementos textuais que antecedem a narrativa como, por exemplo, o provérbio citado, funcionam, em alguns autores, como pista para se entender o sentido das ações ficcionais.

No excerto acima, as ideias de beleza e necessidade são contrapostas com vistas à produção de um sentido de ordem moral. Considerando-se a jornada heroica de Augusto Matraga, é correto afirmar que a narrativa

a) contradiz o sentido moral do provérbio, uma vez que o protagonista não é fiel ao seu propósito de mudar os hábitos antigos.

b) confirma o sentido moral do provérbio, uma vez que o protagonista realiza uma série de ações para corrigir seu caráter e reordenar eticamente sua vida.

c) ratifica o sentido moral do provérbio, uma vez que o protagonista é seduzido pelos encantos da natureza e pelos prazeres da bebida e do fumo.

d) refuta o sentido moral do provérbio, uma vez que o protagonista não consegue agir sem as motivações da beleza física e do afeto femininos.

TESTIMONIALS

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A poesia de Jorge de Lima perpassa pela religiosidade santeira, ora malandra e regateadora, ora assustada e supersticiosa, pela cultura das festas e folguedos de rua, pelos afetos derramados que revestem o conflituoso convívio entre miseráveis e poderosos.

Fábio de Sousa Andrade

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Jorge de Lima

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