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Transcript

Vontade, livre-arbítrio e graça

2ª Ensino Médio - Filosofia

Profª Joce Aquino

Durante a Idade Média

a Filosofia recebeu de pensadores cristãos contribuições que tiveram grande repercussão no campo da Ética. Esse processo começou com os primeiros padres da Igreja, por isso, o período inicial do novo pensamento foi chamado de Patrística.

Nesse grupo de pensadores, destacou- -se Agostinho de Hipona, que recebeu influências greco-romanas, em especial do neoplatonismo e do estoicismo. Além disso, na juventude, ele seguiu uma doutrina persa denominada maniqueísmo. Porém, uma vez convertido ao cris-tianismo, dedicou-se à construção de uma Filosofia cristã.

01

Definição

Definition

Neoplatonismo: conjunto de doutrinas e escolas de inspiração platônica que se de-senvolveram entre os séculos III a.C. e III d.C., com grande influência até o século VI. Maniqueísmo: doutrina fundada pelo profeta persa Mani, no século III, segundo a qual existiriam no Universo duas forças ou substâncias primordiais: o bem e o mal.

A partir do SéculoIV d.C.

02

o Império Romano adotou o cristianismo como religião oficial em seus domínios, o que impulsionou a formação de um pensamento filosófico em consonância com a nova religião.

Ampliou-se, assim, o esforço dos teólogos da Igreja para adaptar as teorias gregas, principalmente as de Platão e Aristóteles, aos ensinamentos das Sagradas Escrituras, apesar de existirem contradições entre esses conteúdos. .

Portanto

conceitos centrais para as diferentes áreas da reflexão filosófica, inclusive a Ética, foram reinterpretados.

O bem, por exemplo, encontrou em Deus a sua personificação, de modo que a ação moral se tornou o meio para a união do ser humano com ele.

Nesse contexto, verificou-se uma grande aproximação entre reflexões éticas e teológicas

O problema do mal

Uma vez convertido ao cristianismo, Agostinho adotou a concepção de Deus como ser perfeito, sumamente bom e criador de todas as coisas. No entanto, ele se defrontou com um problema: se Deus, que é perfeito, criou todas as coisas, como justificar a existência do mal?

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Para Agostinho, a criação do mal era incompatível com a bondade e a perfeição do Deus cristão.

Assim, o pensador buscou a sua origem na ação humana, concluindo que o mal não era uma substância existente (como pensavam os maniqueus), mas uma manifestação de carência e desvio em relação ao bem.

Para explicar a possibilidade desse desvio, o filósofo recorreu ao conceito de vontade, elemento que, assim como a razão, ele entendia como parte da essência humana.

Apresentou...

a razão como a faculdade de conhecer, e a vontade como a faculdade de escolher. Agostinho destacou, ainda, o conceito de livre-arbítrio, entendido como a liberdade de escolha dada por Deus aos seres humanos para que pudessem direcionar a vontade à busca dos bens mais importantes.

No entanto, o uso incorreto do livre-arbítrio, desviando-se dos bens espirituais em favor dos bens materiais, seria a causa do mal moral, ou seja, do pecado humano.

Part 1

Para compreender

a possibilidade do mal moral no pensamento agostiniano, é preciso considerar sua crença na existência de inúmeras manifestações do bem, de diferentes graus, uma vez que ele entendia a criação como obra de amor de um Deus perfeito.

Nessa visão, o pecado seria justamente o uso inadequado do livre-arbítrio, o desvio da vontade, ou seja, um ato de soberba da criatura que se afastaria de forma voluntária do Criador, optando pelos bens da vida material, inferiores aos bens espirituais.

Part 2

Segundo....

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Agostinho,

males físicos, como as doenças e a morte, eram efeitos do pecado original, representado pela soberba de Adão e Eva, por meio da qual a alma pecadora corrompera a carne.

Depois desse delito, o ser humano pas-sou a necessitar da graça divina para se redimir. Contudo, em um segundo ato de amor, Deus lhe concederia a graça, como meio de proporcionar-lhe a salvação, libertando-o da escravidão das paixões e direcionando seu livre-arbítrio ao verdadeiro bem, para o qual ele fora criado. Assim, o indivíduo se tornaria incapaz de fazer o mal. Logo, segundo Agostinho, a liberdade humana consistia na aceitação da graça, para o correto direcionamento do livre-arbítrio.

Agostinho refletiu sobre uma espécie de “doença da alma”, que provocava uma divisão da vontade, fazendo com que, mesmo sendo iluminada pela verdade, ela padecesse por causa dos vícios e dos hábitos que resultariam em erros e maldades. Ele também afirmou que a vontade é livre, por sermos dotados de livre-arbítrio. Essas são as temáticas dos textos a seguir, extraídos de suas obras...

Livre-arbítrio [...] Se é verdade que o homem em si é bom, mas não poderia agir bem exceto por querer, seria preciso que tivesse vontade livre para que pudesse agir desse modo. De fato, não é porque o homem pode usar a vontade livre para pecar que se deve supor que Deus a concedeu para isso. Há, portanto, uma razão pela qual Deus deu ao homem esta carac-terística, pois, sem ela, não poderia viver e agir corretamente. Pode-se compreender, então, que ela foi concedida ao homem para esse fim, con-siderando-se que, se um homem a usar para pecar, recairão sobre ele as punições divinas. [...]Quando Deus pune o pecador não te parece que lhe diz o seguinte: “Estou te punindo porque não usaste de teu livre-arbítrio para fazer aqui-lo para o que eu o concedi a ti”? Ou seja, para agires corretamente.

Atividade

A vontade em guerra [...] Donde provém esse prodígio? Qual a causa? A alma manda ao corpo, e este imediatamente lhe obede-ce; a alma dá uma ordem a si mesma, e resiste! Ordena a alma à mão que se mova, e é tão grande a facilidade, que o mandado mal se distingue da execução. E a alma é alma, e a mão é corpo! A alma ordena que a alma queira; e, sendo a mesma alma, não obedece. [...]Mas não quer totalmente, portanto, também não ordena terminantemente. Manda na proporção do querer. Não se executa o que ela ordena enquanto ela não quiser, porque a vontade é que manda que seja vontade. Não é outra alma, mas é ela própria. Se não ordena plenamente, logo não é o que manda, pois, se a vontade fosse plena, não ordenaria que fosse vontade, porque já o era. Portanto, não é prodígio nenhum em parte que-rer e em parte não querer, mas doença da alma. Com efeito, está sobrecarregada pelo hábito, não se levanta totalmente, apesar de socorrida pela verdade. [...]

1. Que relações podem ser estabelecidas entre o conceito agostiniano de graça e os conteúdos dos textos citados anteriormente?2. Você concorda com a tese de que a liberdade humana consiste em direcionar a vontade para o bem, tornando-se incapaz de desejar o mal? Por quê?

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