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“L’ame adnientie et franche” de Marguerite Porete e o “ledic sîn” de Meister Eckhart: anotações sobre o léxico da experiência mística na baixa Idade-Média

O Espelho das almas simples e aniquiladas

Title

- misticismo especulativo

- sec. XIII: Dante Alighieri (Divina Commedia);

Meister Eckhart (Opus tripartitum)

-

  • inquisitor: dominicano Guilherme Humbert de Paris

  • “pro convicta et confessa et pro lapsa in haeresim”

- 11 de abril de 1309 21 teólogos julgaram o livro da Porete herético e decretaram sua destruição,

- 1º de junho de 1310: queimada viva junto com seu livro na Place de Grève em Paris.

1307

segundo magistério parisiense (1311-1313)

  • Eckhart conviveu com o confrade e inquisidor no convento dominicano de Saint Jaques.

  • conheceu o Miroir;

  • deu-lhe uma formulação mais precisa e sustentável do ponto de vista teológico.

enquanto mulher,

- beguina e mística, Marguerite transgrediu todos os limites impostos.

- Eckhart superou as divisões eclesiásticas de gênero e reconheceu em Marguerite um espírito semelhante ao dele na audácia da expressão

- Sermão 52 de Eckhart (Beati paupere espiritu)

- o tema central do abgescheidenheit é o anéantissement de Marguerite

  • “espelho” (Miroir): livro de instrução religiosa

  • texto mistagógico.

Um espelho mistagógico

139 capítulos

a alma - o amor - a razão - a Santa Igreja, a Grande e a Santa Igreja, a Pequena - a fé - o temor) - a discrição - a cortesia - o entendimento de razão - a alma atônita, atordoada - verdade - o Divino direito - Deus o Pai - o Espírito Santo

Loingprés

  • capítulo 58: Loingprés (o Longeperto)
  • ideia de um Deus ao mesmo tempo distante e próximo
  • alicerce = experiência bíblica do ser humano
  • esvaziamento

* lítotes

* oximoro

* jogos de acoplagem

* contrastes lexicais

* semelhança ou igualdade de sons em palavras próximas

* repetição continuada da mesma palavra

figuras retóricas

Conclusões momentâneas

A todos os que vivem do vosso conselho, diz ela, que são tamanhas bestas e asnos que por sua grosseria me fazem dissimular e não falar minha linguagem para que não encontrem a morte no estado de vida, onde estou em paz sem de lá me mover. Eu digo, diz a Alma, que, em virtude de sua grosseria, convém que eu me cale e oculte minha linguagem, que aprendi em segredo na corte secreta do doce país, no qual a cortesia é lei, o amor é a medida, e a bondade, o alimento; a doçura me conduz, a beleza me apraz, a bondade me nutre. O que posso mais fazer, já que vivo em paz?

(Cap. 68)

picardo

  • livro mais acessível

  • mais perigoso aos olhos da ortodoxia religiosa

  • uma mulher ousada que quer subverter toda convenção e libertar as palavras de sua antiga tradição.

- poesia cortês profana

- espécie de prosa científica: linguagem do dia-a-dia, visão atenta a tudo o que está ao seu redor,

“fogo abrasador que arde sem sufocar”

(Cap. 64),

“as armadilhas da natureza, pois assim sutilmente como o sol absorve a água de um pano sem que ninguém perceba, ainda que esteja olhando, igualmente a Natureza sem engana sem que o saiba”

(Cap. 138)

escolha linguística e lexical

L’ame adnientie et franche

Agora ouvi e entendei bem, ouvintes (sic) deste livro, o verdadeiro entendimento daquilo que ele diz em tantos lugares, que a Alma Aniquilada não tem mais vontade, nem é mais capaz de tê-la, nem de querer tê-la, e que com isso a vontade divina é perfeitamente realizada; e que a Alma não tem o suficiente do amor divino, nem o Amor divino tem o suficiente na Alma, até que a Alma esteja em Deus e Deus na Alma, dele e por ele colocada em tal estado de repouso divino. Então a Alma tem toda sua satisfação

(Cap. 12).

Cap. 59

três mortes místicas

Inicialmente essa Alma realizou sua conquista por meio da vida da graça, graça nascida da morte do pecado. Depois, diz Amor, ela realizou sua conquista por meio da vida do espírito, que nasceu da morte da natureza. E agora, ela vive a vida divina, nascida da morte do espírito.

- primeiro estado: os que “estão mortos para o pecado mortal e nascidos na vida da graça” (Cap. 62)

sete estados da ascensio

"Esse é o costume, diz essa Alma, dos mercadores que no mundo são chamados de vilões, e, de fato, vilões eles são. Pois os cavalheiros não sabem se misturar no mercado, nem sabem ser egoístas. Mas vos direi, diz essa Alma, o que me apaziguará em relação a tal gente. É isso, dama Amor, eles estão fora da corte dos vossos segredos, assim como estaria um vilão na corte de um cavalheiro no julgamento dos seus pares, onde ninguém pode estar se não for da mesma linhagem – ao menos na corte do rei".

(Cap. 63)

Segunda morte mística (morte da natureza): 2º - 3º - 4º estado

  • vida mais espiritual do que psíquica

  • ainda condicionada por uma vontade pessoal.

segunda morte mística

(morte do espírito)

5º quinto estado

a alma é totalmente aniquilada:

“agora essa Alma caiu do amor no nada, sem o qual ela não pode ser tudo. A queda é tão profunda, se ela caiu corretamente, que a Alma não pode se erguer de tal abismo. Também não deve fazê-lo, ao contrário, deve aí permanecer”.

(Cap. 118)

terceira morte mística

bem-aventurança

sétimo e último estado

a alma é “recolocada naquela Deidade simples, que é um Ser simples de fruição transbordante, na plenitude do saber sem sentimento, acima do pensamento” (Cap. 138)

Sermão 9

o totaliter alter

não está “lá fora”

"a bem-aventurança de Deus <porém> reside na introversão do intelecto voltado para o um, onde a “palavra” permanece imanente. Ali a alma deve ser um “advérbio” e operar uma obra com Deus a fim de criar sua bem-aventurança no conhecer suspenso em si mesmo: No mesmo, onde Deus é bem-aventurado".

finalidade e justificação de todas as pregações de Eckhart

ser “advérbio” do Verbum

que o ser humano chegue a ser “advérbio” do Verbum e encontre seu lugar junto à palavra, perfeitamente identificado com ela.

“desprendimento, completa disponibilidade, total liberdade”

correspondente da aniquilação (anéantissement) poretiana.

sermão nº. 1

Jesus entrou no templo e começou a expulsar aqueles que vendiam e compravam, Mt 21,12

ledic sîn (estar vazio)

Lemos no santo evangelho que Nosso Senhor entrou no templo e expulsou os que ali compravam e vendiam; e disse aos outros que ofereciam em pechincha pombas e coisas parecidas: “Levai isso embora, retirai-o para longe!” (Jo 2,16). Por que Jesus expulsou os que compravam e vendiam, e aos que ofereciam pombas apenas ordenou que esvaziassem o lugar? E que, em tudo isso, a sua única exclusiva intenção era querer ter o templo vazio, justamente como quisesse dizer: “Tenho direito sobre esse templo, e nele quero estar só e reinar”.

a igualdade entre o ser humano e Deus

  • livro do Gênesis
  • propriedade comum: estar vazio
  • templo (a alma) vazio = igual e semelhante a Deus.

(9, 3-6) Deus

A. Deus não busca o que é seu;

B. em todas as suas obras ele é solto e livre (ledic und vrî)

C. e as opera a partir de um amor genuíno.

ledic

O homem que está unido a Deus

B’. ele também permanece solto e livre em todas as suas obras,

C’. operando apenas para a honra de Deus,

A’. e não busca o que é seu

  • ledig = espaço livre a modo de uma vasilha pronta para receber o líquido.

É o modo de ser desprendido, isento de impedimentos, sem preocupação.

  • vazio, livre, desprendido, isento, e muitas vezes virgem, virginal.

  • O disposto, a disposição e a disponibilidade

vazio

Falei também, além disso, que Nosso Senhor disse aos que ali ofereciam pombas: “Levai isso embora, retirai-o para longe!” A essa gente, Nosso Senhor não escorraçou, nem repreendeu muito, mas falou-lhe até com bondade: “Levai isso embora!”, como se quisesse dizer: “Isso <certamente> não é mau, mas impede a pura verdade”. Toda essa gente são boas pessoas, fazem suas obras puramente só por causa de Deus e nisso nada buscam do que é seu, e, no entanto, fazem-nas com e por vontade própria, ligadas a tempo e a número, a antes e depois. Nessas obras, essas pessoas estão impedidas <de alcançar> da melhor de todas as verdades, a saber, que elas deveriam ser livres e soltas como Nosso Senhor Jesus Cristo é livre e solto, e todo tempo, sem cessar e sem tempo, se concebe novo de seu Pai celeste, e no mesmo instante, sem cessar, perfeitamente de novo, gera a si com louvor e gratidão, para dentro da sublimidade do Pai, em igual dignidade

vendedoresno Templo

proprium ou eigenschaft

Em plena verdade: a esse templo ninguém é realmente igual a não ser somente o Deus incriado. Tudo que está abaixo dos anjos não se iguala, de modo algum, a esse templo. Mesmo os anjos, os mais elevados, só se igualam a esse templo da alma nobre até um certo grau, mas não plenamente. Que eles se igualem a alma em certa medida, isso vale para o conhecimento e o amor. Todavia, foi-lhes posta uma destinação; para além da qual não podem ir. Mas a alma pode muito bem ultrapassá-la. Se uma alma – e, a propósito, a <alma> de um homem que ainda vivesse na temporalidade – estivesse na mesma altura que o mais elevado dos anjos, esse homem poderia, assim, sempre ainda, em sua possibilidade livre, alcançar imensuravelmente mais alto por sobre o anjo, a cada instante, de novo, sem número, isto é, sem modo e por sobre o modo dos anjos e de todo o intelecto criado. Só Deus é livre e incriado, e por isso só Ele é igual a ela [a alma nobre] segundo a liberdade, não, porém, em vista da in-criaturidade, pois ela é criada

  • limitado pela eternidade

  • o ser humano no seu templo é absolutamente livre, indeterminado e igual a Deus.

possibilidade

livre

Marguerite Porete:

  • renunciou à sua vontade
  • saiu de si mesma
  • procurou a Deus nas criaturas em vão
  • o encontrou no fundo da sua alma:

"Fui uma vez uma criatura mendicante

que por longo tempo buscou Deus na criatura para ver se o encontraria assim como ela o queria, e assim como Ele mesmo seria se a criatura o deixasse operar suas obras divinas nela, sem que ela o impedisse. E ela nada encontrou, mas, ao contrário, permaneceu faminta daquilo que buscava. E quando viu que nada encontrou se pôs a pensar. E seu pensamento lhe disse para buscá-lo, assim como ela desejava, no fundo do âmago do entendimento da pureza de seu sublime pensamento. Lá essa criatura mendicante foi buscá-lo, e pensou que poderia escrever sobre Deus da maneira como gostaria de encontrá-lo nas suas criaturas. E, assim, essa criatura mendicante escreveu o que agora ouvis; e queria que seus próximos encontrassem Deus nela, por seus escritos e por suas palavras; dito de outra forma, ela queria que seus próximos fossem perfeitamente como ela os descreveu, ao menos todos aqueles para quem ela tinha vontade de dizer isso. (Cap. 96).

experiência do Uno

  • transformar em palavra aquilo que é inefável.

  • criação contínua de um novo léxico,

“em algo que não se pode fazer, nem pensar, nem dizer, não mais do que aquele que quisesse encerrar o mar em seu olho, ou carregar o mundo na ponta de um junco, ou iluminar o sol com uma lanterna ou com uma tocha”

(cap. 97)

realidade diária como tinteiro

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