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Trabalho elaborado por: Margarida Raposo
12º ano turma 3
Entre 1959 e 1965, os anos do Brasil, escreve:
A obra de Jorge de Sena, vasta e multifacetada:
Figurações do poeta
• Liberdade é palavra-chave para compreender a poética de Jorge de Sena;
• O poeta é um cidadão do Mundo que fala uma língua universal a ser escutado por todos.
Quem a tem…
Não hei-de morrer sem saber
Qual a cor da liberdade.
Eu não posso senão ser
desta terra em que nasci.
Embora ao mundo pertença
e sempre a verdade vença,
qual será ser livre aqui,
não hei-de morrer sem saber.
Trocaram tudo em maldade,
é quase um crime viver.
Mas embora escondam tudo
e me queiram cego e mudo,
não hei-de morrer sem saber
qual a cor da liberdade.
Jorge de Sena, Fidelidade, 1956
O desejo de liberdade é justificado pelo contexto em que vive o sujeito poético, ansiando a liberdade, caracteriza o seu país como um lugar privado dessa liberdade, dominado pela maldade que amordaça a vida, as pessoas, o direito à palavra.
o sujeito poético exprime o desejo de não morrer sem saber o que é ser livre na terra em que nasceu.
Considerando a data de escrita do poema facilmente percebemos que este contexto é o da ditadura salazarista.
Apresenta-se também uma circularidade à volta de morte, de modo a reforçar a ideia-chave do poema.
• A palavra-chave é relações;
• Esta temática faz o enquadramento da sua obra a partir dos três vetores que dinamizam a sua arte poética: testemunho, metamorfose e peregrinação.
• Este trabalho constitui uma primeira tentativa de visão integrada da sua obra poética, visionário e crítica.
•Jorge de Sena tem no seu erotismo o seu princípio criativo e no exílio a sua circunstância.
Sento-me à mesa como se a mesa fosse o mundo inteiro
E principio a escrever como se escrever fosse respirar
O amor que não se esvai enquanto os corpos sabem
De um caminho sem nada para o regresso da vida.
À medida que escrevo, vou ficando espantado
Com a convicção que a mínima coisa põe em não ser nada.
Na mínima coisa que sou, pôde a poesia ser hábito.
Vem, teimosa, com alegria de eu ficar alegre,
Quando fico triste por serem palavras já ditas
estas que vêm, lembradas, doutros poemas velhos.
Uma corrente me prende à mesa em que os homens comem.
E os convivas que chegam intencionalmente sorriem
E só eu sei porque principiei a escrever no princípio do mundo
E desenhei uma rena para a caçar melhor
E falo da verdade, essa iguaria rara:
Este papel, esta mesa, eu apreendendo o que escrevo.
Jorge de Sena, Coroa da terra, 1946
O ato poético adquire uma dimensão vital: “como se escrever fosse respirar”, “à mesa onde os homens comem”.
reflete a atitude do sujeito para com a poesia.
Sendo o momento da criação vital, o poeta condensa a experiência milenar da Humanidade e a relação profícua do poeta com o Mundo.
A escrita avança em três momentos:
Tradição literária
• A palavra-chave é metamorfoses;
• Esta temática representa uma celebração do espírito humano.
• Cumpre-se a máxima horaciana ut pictura poesis, não implicando que haja uma correspondência entre a obra evocada e o poeta.
• Manifestação de angustia face à mortalidade, que o poeta assume em denegação.
• O diálogo com as obras de arte constitui uma manifestação ecfrástica de converter imagens em palavras.
Camões dirige-se aos seus contemporâneos
Podereis roubar-me tudo:
as ideias, as palavras, as imagens,
e também as metáforas, os temas, os motivos,
os símbolos, e a primazia
nas dores sofridas de uma língua nova,
no entendimento de outros, na coragem
de combater, julgar, de penetrar
em recessos de amor para que sois castrados.
E podereis depois não me citar,
suprimir-me, ignorar-me, aclamar até
outros ladrões mais felizes.
Não importa nada: que o castigo
será terrível. Não só quando
vossos netos não souberem já quem sois
terão de me saber melhor ainda
do que fingis que não sabeis,
como tudo, tudo o que laboriosamente pilhais,
reverterá para o meu nome. E mesmo será meu,
tido por meu, contado como meu,
até mesmo aquele pouco e miserável
que, só por vós, sem roubo, haveríeis feito.
Nada tereis, mas nada: nem os ossos,
Que um vosso esqueleto há-de ser buscado,
Para passar por meu. E para os outros ladrões,
Iguais a vós, de joelhos, porem flores no túmulo.
Jorge de Sena, Poesia II, Lisboa,1988.
uma voz que identificamos no título, com um discurso próprio de vibrante oralidade, interpela os seus contemporâneos para lhes mostrar o que o destino lhes reserva no futuro.
O sujeito, oculto sob uma máscara particularmente produtiva, inflete sob um destino particular.
• A tradição regista que Camões enfrentou a inveja e uma espécie de preconceito dos poetas seus contemporâneos.
É essa tradição que está presente no poema, em que os poetas da época são acusados de terem roubado as ideias e a palavra do poeta, e de não o terem citado.
• A noção de criador original que perpassa a modernidade artística e a do reconhecimento da sua obra pelos outros são fulcrais.
• A palavra-chave é testemunho;
• Presentificação de algo que transcende a linguagem pela mesma linguagem.
• Sujeito lírico deixa passar através de si a realidade, oferecendo-se como lugar de uma voz.
Estes fuzilamentos, este heroísmo, este horror,
foi uma coisa, entre mil, acontecida em Espanha
há mais de um século e que por violenta e injusta
ofendeu o coração de um pintor chamado Goya,
que tinha um coração muito grande, cheio de fúria
e de amor. Mas isto nada é, meus filhos.
Apenas um episódio, um episódio breve,
nesta cadela de que sois um elo (ou não sereis)
de ferro e de suor e sangue e algum sémen
a caminho do mundo que vos sonho.
Acreditai que nenhum mundo, que nada nem ninguém
vale mais que uma vida ou a alegria de té-la.
É isto o que mais importa - essa alegria.
Acreditai que a dignidade em que hão-de falar-vos tanto
não é senão essa alegria que vem
de estar-se vivo e sabendo que nenhuma vez alguém
está menos vivo ou sofre ou morre
para que um só de vós resista um pouco mais
à morte que é de todos e virá.
Que tudo isto sabereis serenamente,
sem culpas a ninguém, sem terror, sem ambição,
e sobretudo sem desapego ou indiferença,
ardentemente espero. Tanto sangue,
tanta dor, tanta angústia, um dia
- mesmo que o tédio de um mundo feliz vos persiga -
não hão-de ser em vão. Confesso que
multas vezes, pensando no horror de tantos séculos
de opressão e crueldade, hesito por momentos
e uma amargura me submerge inconsolável.
Serão ou não em vão? Mas, mesmo que o não sejam,
quem ressuscita esses milhões, quem restitui
não só a vida, mas tudo o que lhes foi tirado?
Nenhum Juízo Final, meus filhos, pode dar-lhes
aquele instante que não viveram, aquele objecto
que não fruíram, aquele gesto
de amor, que fariam «amanhã».
E. por isso, o mesmo mundo que criemos
nos cumpre tê-lo com cuidado, como coisa
que não é nossa, que nos é cedida
para a guardarmos respeitosamente
em memória do sangue que nos corre nas veias,
da nossa carne que foi outra, do amor que
outros não amaram porque lho roubaram.
Jorge de Sena
Não sei, meus filhos, que mundo será o vosso.
É possível, porque tudo é possível, que ele seja
aquele que eu desejo para vós. Um simples mundo,
onde tudo tenha apenas a dificuldade que advém
de nada haver que não seja simples e natural.
Um mundo em que tudo seja permitido,
conforme o vosso gosto, o vosso anseio, o vosso prazer,
o vosso respeito pelos outros, o respeito dos outros por vós.
E é possível que não seja isto, nem seja sequer isto
o que vos interesse para viver. Tudo é possível,
ainda quando lutemos, como devemos lutar,
por quanto nos pareça a liberdade e a justiça,
ou mais que qualquer delas uma fiel
dedicação à honra de estar vivo.
Um dia sabereis que mais que a humanidade
não tem conta o número dos que pensaram assim,
amaram o seu semelhante no que ele tinha de único,
de insólito, de livre, de diferente,
e foram sacrificados, torturados, espancados,
e entregues hipocritamente â secular justiça,
para que os liquidasse «com suma piedade e sem efusão de sangue.»
Por serem fiéis a um deus, a um pensamento,
a uma pátria, uma esperança, ou muito apenas
à fome irrespondível que lhes roía as entranhas,
foram estripados, esfolados, queimados, gaseados,
e os seus corpos amontoados tão anonimamente quanto haviam vivido,
ou suas cinzas dispersas para que delas não restasse memória.
Às vezes, por serem de uma raça, outras
por serem de urna classe, expiaram todos
os erros que não tinham cometido ou não tinham consciência
de haver cometido. Mas também aconteceu
e acontece que não foram mortos.
Houve sempre infinitas maneiras de prevalecer,
aniquilando mansamente, delicadamente,
por ínvios caminhos quais se diz que são ínvios os de Deus.
• O "eu" lírico anseia para os filhos um mundo natural e simples, de liberdade e igualdade , sem sacrifício e discriminação, no qual a vida seja respeitada.
• O sujeito poético dirige uma carta aos seus filhos para desejar que a sua vida cresça num mundo melhor, pautado por valores fundamentais, e que eles preservem e amem esse novo mundo.
• Salientam-se os valores relacionados com os direitos humanos, sem opressão nem atropelos à liberdade individual.
Resumo...
Representação do contemporâneo
Tradição literária
Arte poética
Figurações do poeta
Testemunho
Relações
Liberdade
Metamorfoses