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A obra literária Vida Secas traz um texto com poucos diálogos, que mostra o ponto de vista de cada personagem. Originalmente cada capítulo foi publicado separadamente num jornal da época. A subjetividade do texto auxiliou a inspiração do cineasta na construção do roteiro, tentando traduzir ideias em imagem e som. Um dos alicerces do drama de Fabiano é justamente a falta de comunicação, a dificuldade de se expressar verbalmente, o que gera um sentimento de impotência tanto para ele, como para sua esposa Sinhá Vitória.
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O livro possui 13 capítulos que, por não terem uma linearidade temporal, podem ser lidos em qualquer ordem. Porém, o primeiro, “Mudança”, e o último, “Fuga”, devem ser lidos nessa sequência, pois apresentam uma ligação que fecha um ciclo. “Mudança” narra as agruras da família sertaneja na caminhada impiedosa pela aridez da caatinga, enquanto que em “Fuga” os retirantes partem da fazenda para uma nova busca por condições mais favoráveis de vida. Assim, pode-se dizer que a miséria em que as personagens vivem em Vidas Secas representa um ciclo. Quando menos se espera, a situação se agrada e a família é obrigada a se mudar novamente.
Baleia: cadela que é tratada como membro da família. Pensa, sonha e age como se fosse gente.
Sinhá Vitória: mulher de Fabiano. Mãe de 2 filhos, é batalhadora e inconformada com a miséria em que vivem. É esperta e sabe fazer conta, sempre prevenindo o marido sobre trapaceiros.
Fabiano: vaqueiro rude e sem instrução, não tem a capacidade de se comunicar bem e lamenta viver como um bicho, sem ter frequentado a escola. Ora reconhece-se como um homem e sente orgulho de viver perante às adversidades do nordeste, ora se reconhece como um animal. Sempre a procura de emprego, bebe muito e perde dinheiro no jogo.
Filhos: o mais novo admira a figura do pai vaqueiro, integrado à terra em que vivem. Já o mais velho não tem interesse nessa vida sofrida do sertão e quer descobrir o sentido das palavras, recorrendo mais à mãe.
Patrão: fazendeiro desonesto que explorava seus empregados, contrata Fabiano para trabalhar.
Fabiano e sua família, formada pela esposa Sinhá Vitória, pelos filhos não nomeados, chamados apenas de Menino mais Velho e Menino mais Novo, a cachorra (esta sim, batizada ironicamente de Baleia, ou seja aquela que anda livremente pelo mar) e o papagaio, têm a sua saga de migrantes narrada em terceira pessoa.
A estiagem que corrói a terra, levando à fome e à necessidade de migrar também domina a alma de cada um dos personagens. Eles não passam de marionetes de um grande sistema econômico do qual não conseguem escapulir e que os massacra sob diversos aspectos, da falta de dinheiro ao da carência total de perspectivas.
A ausência de comunicação entre os personagens é o grande tema do livro. Se a baleia, enquanto cetáceo, domina o mar, a Baleia do livro, adoentada, é vencida pela seca, sendo sacrificada por Fabiano, numa das principais cenas do livro, levada para a tela com extrema sensibilidade na versão cinematográfica de Nelson Pereira dos Santos, em 1963.
Mesmo na tarefa de matar Baleia, Fabiano fracassa. Apenas fere o animal, que vem a morrer no dia seguinte. O talento de Graciliano está em estruturar a narrativa de modo que, perante pessoas sem sonhos, apenas Baleia tem o poder de imaginar. Pouco antes de morrer, ela vê a si mesma num campo repleto de preás, onde poderia saciar a sua fome.
Resta à família de migrantes ter como ideal o paradigma idealizado de Tomás da bolandeira, com sua cama de couro e seu amplo vocabulário, que se tornam objetos de desejo da família de Fabiano. Sem educação, a família não tem sequer recursos verbais para discutir qualquer tipo de ofensa ou humilhação pela qual passa.
A representação do poder instituído está na personagem do Soldado Amarelo. Surge como um policial arbitrário que, após uma discussão num jogo de cartas, é responsável pela prisão e humilhação do chefe da família sertaneja, que se sente impotente perante o mundo, sem possibilidade de alterar nada.
O dono da fazenda abandonada em que Fabiano trabalha como vaqueiro também pode ser considerado uma representação da mediocridade, injustiça e opressão. Sua busca pela produtividade o deixa cego para qualquer valor humano. Em contrapartida, a família caminha num triste movimento cíclico de solidão, abandono das autoridades e desesperança. A única alternativa é a melancólica fuga, tanto de si mesmos como do sertão abrasador.