ESTUDO MORFOMÉTRICO DO SIRI PORTUNUS SPINIMANUS (BRACHYURA, PORTUNIDAE) CAPTURADO COMO FAUNA ACOMPANHANTE DA FROTA DE PARELHA NO LITORAL DO ESTADO DE SÃO PAULO.
Bruno Paes De Carli
Orientador: Dr. Evandro Severino Rodrigues
Introdução
Arrasto de parelhas
A captura mundial de fauna acompanhante é muito superior a produção das espécies-alvo, estimando-se que as 1,8 milhões de toneladas/ano de camarão capturados no mundo geram em torno de 11,2 milhões de toneladas/ano de fauna acompanhante (85% sem aproveitamento comercial) (ALVERSON et al., 1994).
Segundo GRAÇA-LOPES (1996), a fauna acompanhante é a denominação dada a todo indivíduo ou conjunto de indivíduos, de qualquer tamanho ou espécie, capturado(s) junto(s) com a espécie alvo de uma pescaria, sem que isso implique obrigatoriamente em qualquer relação biológica entre eles.
Os portunídeos apresentam semelhanças na forma do corpo e as variações associadas a alterações nas suas dimensões corporais podem revelar diferenças relacionadas ao habitat ocupado, pelas mesmas espécies, sendo de suma importância o estudo das medidas corporais, da maturação gonadal e da fecundidade para o conhecimento de grupos de espécies que caracterizam determinados ambientes (GARCIA-MONTES et al 1987
Os barcos que atuam nas frotas de arrasto com parelhas e com portas possuem uma grande sobreposição de áreas de operação e muitas espécies de captura em comum (CASTRO, 2006) O impacto desses dois tipos de frota sobre o ambiente, tem preocupado os pesquisadores, pois a mortalidade das espécies que compõem a fauna acompanhante e a quantidade e intensidade dessa captura não intencional, poderiam estar interferindo no equilíbrio das comunidades presentes na área costeira onde são praticados os arrastos (CONOLLY 1986, SEVERINO-RODRIGUES et al. 2002). Dentre as espécies presentes nas capturas tem-se observado a ocorrencia do siri-candeia (P. spinimanus).
Crescimento relativo ou alométrico ocorre quando certas dimensões do corpo progridem em taxas diferentes de outras, levando a mudanças nas proporções com o aumento do tamanho.
O crescimento relativo obtido através das relações morfométricas pode ser descrito através de equações matemáticas do tipo: Y = axb onde b (inclinação da reta) é considerado índice de crescimento, podendo ser: alométrico positivo (>1), alométrico negativo (<1) ou isométrico (=1) (TESSIER, 1996; FINNEY and ABELE, 1981)
A relação tamanho/peso é frequentemente empregada em estudos de dinâmica populacional e avaliação de estoques em espécies submetidas a pesca para: converter uma variável na outra (estimando-se, por exemplo, o peso esperado para determinado tamanho de um individuo e vice versa) ou para detectar alterações relacionadas a maturação e avaliar o fator de condição (PINHEIRO e FRANSOZO, 1993, SANTOS et aL. 1995a).
Apesar dos crustáceos não constituirem o principal alvo da frota de parelhas, a participação de siris do gênero Portunus nas capturas tem sido frequente e relativamente abundante, tornando-se importante analisar as características biológicas dos exemplares capturados para que se possa avaliar possíveis impactos desse tipo de pesca sobre a população da espécie. No presente trabalho objetiva-se caracterizar morfometricamente as espécies de Portunus spinimanus capturadas pela frota de arrasto com parelhas como forma de contribuir para o conhecimento do comportamento da espécie mediante a ação desse tipo de pesca.
As relações comprimento/peso entre as medidas foram analisadas com verificação dos pontos empíricos a função potência (Y=axb) e classificadas em: isométricas (b=3), alométricas positivas (b>3) ou alométricas negativas (b<3) (HARTNOLL, 1982).
MATERIAIS E MÉTODOS
25°08'15" 45°46'12" a 23º42'09" 44º23'25
Um total de 525 de P. spinimanus foi analisado, sendo 321 machos, 176 fêmeas ovígeras e 28 não-ovígeras. Os machos apresentaram largura da carapaça variando de 54,8 a 105,2mm, fêmeas ovígeras 57,5 a 100,2mm e fêmeas não ovígeras 62, 1 a 96,3mm
Através dos resultados descritos na Tabela 1, observa-se crescimento isométrico na maioria das equações.
A relação comprimento-peso no presente estudo (Cc x Pt) indicou alometria negativa nos grupos estudados, com valores de 2,52 a 2,73. Essa relação tem sido utilizada para estimar o peso de um exemplar através do conhecimento da sua largura, sendo amplamente empregada em estudos de dinâmica populacional e avaliação de estoques. Portunus spinimanus é o representante dos Portunidae estudados na costa brasileira, até o momento, que apresentou os maiores valores de alometria positiva, variando entre 3,33 (machos) e 3,13 (fêmeas) no litoral de Ubatuba (SANTOS et aL. 1995a) e 3,27 para sexos agrupados na costa cearense (MESQUITA 1972).
CONCLUSÕES
A pesca de arrasto de parelhas atuou preferencialmente sobre o estoque adulto com predominância de machos adultos o que é benéfico a população uma vez que a pouca participação dos jovens (recrutas) da a oportunidade de recomposição do estoque.
No entanto a alta participação de fêmeas ovígeras identifica a área amostrada como de reprodução (desova) fato que suscita a necessidade de um gerenciamento adequado das capturas, principalmente se em futuros estudos se puder idenficar picos bem caracterizados de desova.
A ocorrência da espécie em todos os meses amostrados, principalmente no que diz respeito a fêmeas, demonstra que a espécie tem um ciclo de reprodução contínuo.