Apenas se uma premissa como “O futuro será como o passado” for acrescentada ao argumento, a inferência a partir da experiência passada passa a estar justificada.
Se não é possível justificar o Princípio da Uniformidade da Natureza também não temos razão para pensar que as nossas crenças acerca de acontecimentos futuros são verdadeiras. Este é o famoso problema da indução, de que Hume foi o primeiro a dar conta.
Hume mostrou que tanto os racionalistas como os empiristas estavam enganados e que não podemos justificar racionalmente, nem a priori nem a posteriori, os princípios que estão na base das nossas crenças acerca do mundo. Portanto, as nossas crenças sobre o mundo não constituem conhecimento.
Este princípio expressa a ideia de que a natureza é uniforme ou que o futuro será como o passado.
Em circunstâncias idênticas, os acontecimentos de que não temos experiência serão como os acontecimentos de que temos experiência.
Contudo, segundo Hume, esta premissa não está em condições de permitir à razão fazer a inferência de acontecimentos passados para ocorrências futuras porque não é possivel provar que é verdadeira.
A crença na uniformidade da natureza justificava-se de forma indutiva afirmando que se até agora a natureza se tem comportado de determinado modo, acreditamos que ela se irá comportar sempre do mesmo modo.
Justificar a indução com um raciocínio indutivo é um argumento falacioso ( petição de princípio)
Segundo a filosofia de Hume, o que nos faz esperar que o futuro se assemelhe ao passado é a crença no príncipio da regularidade da natureza.
Este princípio não é uma lei objetiva, que resida na própria natureza, mas, tal como a causalidade, é uma projeção sobre a natureza de uma regularidade sentida pelo ser humano.
Se não fosse esta crença, a vida seria caótica, pois duvidariamos de todos os objetos que nos aparecessem.
Não é possível passar diretamente da premissa para a conclusão.
O facto de o pão me ter alimentado no passado e o facto, suposto, de me alimentar no futuro, quando o voltar a comer, são dois acontecimentos distintos e, por isso, não posso inferir o segundo a partir do primeiro.
Aquilo que nos impede de inferir diretamente os acontecimentos futuros a partir dos anteriores é que o curso da natureza pode mudar.
O princípio da indução:
não é a priori (não é uma verdade necessária; nenhum argumento dedutivo pode justificar as crenças indutivas)
não é a posteriori (consistiria num argumento indutivo). Afirmar que a crença na uniformidade da natureza é justificada pela experiência implicaria observar toda a natureza, sempre e em qualquer lugar.
Mesmo que os nossos raciocínios acerca de acontecimentos futuros tenham por ponto de partida premissas empíricas nunca é possível justificar racionalmente as conclusões a que chegamos por seu intermédio.
O exemplo seguinte explica o raciocínio de Hume que está na base desta conclusão:
Sempre que no passado comi pão ele alimentou-me.
Portanto, da próxima vez que comer pão ele alimentar-me-á.
Esta questão só se coloca pelo facto de a nossa ideia de causa e efeito não ter origem a priori, mas na experiência, pela força do hábito
Se a razão fosse capaz de demonstrar que o efeito resulta necessariamente da causa isso seria suficiente para estarmos certos de que as nossas crenças sobre acontecimentos futuros são verdadeiras.
Mas, como a nossa ideia de relação causal resulta da experiência, é legítimo perguntar de que modo a experiência permite justificar as nossas crenças futuras através do que aconteceu no passado.
Problema da indução
Qual é a natureza de todos os nossos raciocínios acerca de questões de facto? A resposta adequada parece ser que eles assentam na relação de CAUSA E EFEITO.
Qual é o fundamento de todos os nossos raciocínios e conclusões acerca dessa relação? Resume-se numa palavra: EXPERIÊNCIA.
Qual é o fundamento de todos os nossos raciocínios a partir da experiência? E aqui se formou o problema que vamos explicar.