Tal análise, no entanto, é ainda superficial e exige um olhar mais apurado para cada um desses enunciados e para os "furos" que eles possam provocar em sua constante repetição/circulação.
Seria preciso, talvez, verificar se tais enunciados produzem ACONTECIMENTO, ou se não passam de um efeito de novidade, através do qual os sentidos parecem deslizar, mas apenas de multiplicam.
Ou, ainda, investigar se os discursos políticos e midiáticos (incluindo agora a midiatização dos discursos ordinários) se transformam, ganham novas formas - o que não seria pouco em política - mas, sobretudo, se essas transformações produzem deslocamentos ao poder atribuído aos lugares a partir dos quais os discursos são produzidos.
Entender, enfim, se o Twitter, nesse caso, não apresenta um funcionamento semelhante ao definido por Orlandi (2006) a respeito da televisão, apontando que a grande possibilidade seja a que "se passe a vida sem jamais sair do domínio da formulação, sem jamais tocar o domínio da constituição do sentido, onde há a falha, há o sem-sentido, há o não-dito. Estaciona-se assim no conforto do sentido prêt-a-porter, do já dito em sua variedade, dos discursos possíveis."
A convergência das mídias digitais (tv, celular, twitter) midiatiza um espaço que engloba, hoje, as três instâncias do discurso político: política/midiática/cidadã.
No entanto, a instância cidadã, antes entendida como um lugar de recepção e avaliação do discurso político (cuja única resposta seria a ação de votar), ganha um funcionamento diferenciado, passando a produzir transformações no discurso político e nas suas estratégias discursivas.
Em termos discursivo tal funcionamento é bastante significativo uma vez que introduz uma possibilidade diferente para o modo como a instância cidadã "consome" o discurso político midiatizado.
No caso do debate, que é, segundo Charaudeau (2006), um espetáculo midiático por natureza, as redes sociais, como o Twitter, permitem analisar e compreender os efeitos do debate na recepção e, simultaneamente, os efeitos dos discursos da recepção no discurso político, que passa a considerar e a tentar contornar tais efeitos, capitalizando-os em suas estratégias de persuassão.
Parece-me (...) essencial deslocar a atenção de uma lógica da produção, que até aqui prevaleceu, para uma análise da recepção dos discursos políticos. Ou seja, deixar de conceber o indivíduo que recebe uma "mensagem" política como um lugar vazio, um ponto neutro, um sujeito passivo que a mensagem viria preencher, informar, desinformar.
Essas concepções, herdeiras das teorias da comunicação dos anos 50 e dos pensamentos da propaganda política do período entre-guerras, são estritamente inadequadas, quando se trata de compreender as decodificações complexas e, de modo algum, passivas das "mensagens" políticas transmitidas pelos canais modernos da comunicação áudio-visual (COURTINE, 2006, p.110)
Coordenadora: Maria Célia Cortez Passetti
www.gepomi.com.br
CHARAUDEAU, Patrick. Discurso político. São Paulo: Contexto, 2006.
COURTINE, J. Jacques. Metamorfoses do discurso político: derivas da fala pública.
ORLANDI, Eni. Discurso e Texto: formulação e circulação dos sentidos.
Michel Pêcheux
Eni Orlandi
Raquel Recuero
Compreender os efeitos da circulação dos comentários sobre o debate e os deslocamentos que produzem no discurso político.
Silvio Meira
Análise de tuites referente ao debate televisivo, ocorrido na Bandeirantes no dia 11 de outubro.
juliasilveira@hotmail.com