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* No que diz respeito às "abordagens metodológicas específicas", quase nada nos é dito nas Ocem;
*A passagem mais relevante afirma, após cosiderar que a metodologia mais utilizada em aulas de filosofia - a aula expositiva (interpretação e contextualização de fragmentos de textos filosóficos) - destoa da concepção de ensino de Filosofia que se pretende (exposta na seção 3, "Competências e habilidades em filosofia"):
"Para a realização de competências específicas, que se tem sobretudo mediante a referência consistente à História da Filosofia, deve-se manter a centralidade do texto filosófico (primários de preferência) [...] Certamente, no desenvolvimento do modo especificamente filosófico de apresentar e propor soluções de problemas, o exercício de busca e reconhecimento de problemas filosóficos em textos de outra natureza, literários e jornalísticos, por exemplo, não deixa de ser salutar, contanto que não se desloque, com isso, o primado do texto filosófico." (p. 37)
* No segundo texto oficial mencionado anteriormente, que não irei comentar em detalhe, Filosofia: ensino médio; mais especificamente no único texto (constante na terceira parte do volume) que pretende abordar questões metodológicas - embora se deva observar que o faz de modo atrelado a questões de avaliação e materiais didáticos.
* Tais falsas "opções curriculares" aparecem com maior grau de detalhe em bibliografia recente, sempre como horizonte de uma defesa de certa concepção diretriz para o ensino de filosofia a nível médio (a saber, a compreensão da filosofia como atividade d criação conceitual).
* O que estou tentativamente buscando formular é algo no seguinte sentido: ninguém discorda que a filosofia é trabalho com conceitos;
* Mesmo que se aposte na tese de que este trabalho é mais criativo do que analítico, me parece, deve-se reconhecer que até mesmo processos criativos (pensemos, por exemplo, na criação teatral de um personagem) dependem de desmembramentos, movimentos de "análise ativa";
* Se queremos que nossos estudantes sejam capazes de inventar por si mesmos os recursos conceituais com os quais dar conta de suas curiosidades teóricas e práticas - e a adolescência está cheia delas - precisamos trabalhar com nossos estudantes-professores certas capacidades analíticas (não de textos e argumentos, mas de análise de si mesmos, uma espécie de cuidado de si);
* Tais capacidades permitem criar e lidar com situações a partir das quais aquelas invenções e análises conceituais típicas da filosofia sejam desejadas pelos estudantes do EM (uma vez que todos sabemos que não se aprende aquilo pelo que não se interessa);
Assim, creio que a comparação do trabalho do professor com o trabalho do ator de teatro merece nossa atenção, não apenas porque o ator precisa criar a partir de suas próprias vivências as sensaçõs com as quais constrói seus personagens, mas porque a formação do ator depende da aquisição de uma série de técnicas de trabalho sobre si mesmo, uma mais e outra menos devedoras da lógica e da razão, e essas técnicas são aprendidas em contextos formacionais dependentes da figura do mestre ou diretor (com quem estou sugerindo compararmo-nos, formadores de professores).
* Esta sugestão de caminho possível de pesquisa e prática em didática filosófica, que pretende se fundamentar, no que diz respeito ao lado teatral, nos trabalhos do grande mestre do teatro russo, Konstantin Stanisláviski, não me parec incompatível com as mais variadas concepções de filosofia a partir das quais se pode pensar o ensino de filosofia no contexto da escola média brasileira e que, a meu ver, não são saudavelmente entendidas se o forem como times distintos para os quais, ao iniciar-se nas práticas docentes, nossos estudantes devam escolher torcer;
* Além do mais, por outr lado, filosofias tão distintas como as de Kant e Nietszche, Wittgenstein, e Deleuze, Tugendhat Ortega y Gasset, poderiam muito bem conviver no ambiente formacional pautado pela comparação que sugiro, na medida em que o foco de uma tal formação seriam as atitudes do professor em suas lidas com estruturas universais e situações singulares de pensamento, com conceitos e métodos transversais e conteúdos das mais variadas disciplinas escolares;
* Falando em Nieszche, aliás, é em um de seus inesquecíveis parágrafos que encontrei, se não a inspiração, ao menos um estímulo para levar adiante a comparação entre filosofia e arte, trabalho do professor e trabalho de ator, lógica e dança:
"Aprender a pensar: não há mais noção disso em nossas escolas.
Mesmo nas universidades, mesmo entre os autênticos doutores da filosofia começa a desaparecer a lógica como teoria, como prática, como ofício. Leia-se os livros alemães: já não se tem a mais remota lembrança de que para pensar é necessária uma técnica, um plano de estudo, uma vontade de mestria - de que o pensar deve ser aprendido, tal como a dança deve ser aprendida, como uma espécie de dança..." a
(Crepúsculo dos Ídolos, VIII, § 7)
Não somente devido ao fato de que seus conceitos, temas e problemas atravessam as, ou podem surgir nas, mais variadas áreas da experiência humana - artes, religiões, conhecimentos e ciências (o que é riquíssimo do ponto de vista didático) - mas também porque os instrumentos e métodos de que dispõe são mais ou menos aplicáveis nos processos reflexivos engendrados a partir delas.
"Quando o exame analítico se volta para as condições de possibilidade de competências cognitivas, linguísticas e de ação" (p. 24).
Sugere-se que a partir daí sejam entendidas
"as lógicas, as teorias do conhecimento, as epistemologias." (loc. cit.)
Direcionada aos "modelos de percepção e de ação compulsivamente restritos pelos quais, em nossos processos de formação individual ou coletiva, nos iludimos a nós mesmos" - com o que se pode compreender relacionadas as tradições "do tipo crítica da ideologia, das genealogias, da psicanálise, da crítica social."
Prof.ª Gisele Secco - UFRGS
Onde aparecem?
* Em realidade, muito pouco (mesmo entendendo "didática" de modo amplo - e talvez demasiado impreciso - como investigação acerca das formas de ensinar e aprender, as condições, saberes e habilidades de que tais práticas necessitam e que engendram), na medida em que não encontramos em tais textos um efetivo diálogo com as áreas de investigação mais propícias a contribuir para reflexões dessa índole, como as psicologias da aprendizagem, as teorias do currículo etc;
* Ainda assim, me parece que se podem delinear indicações acerca da didática da filosofia a partir do que nos é fornecido nos documentos em questão (OCEM, de 2006 e Filosofia: ensino médio, de 2010);